Alagoano autor de três livros usa a poesia para vencer a cocaína e o crack
Com a vida devastada pelas drogas, escritor foi
tratado em comunidade acolhedora mantida pelo Governo do Estado
Aos 50 anos, o historiador é autor de três livros: Absoluto
Obsoleto, escrito e lançado em 1994, Janelas (sobre noites e bêbados),
de 2009 e “A palavra vira poesia”, escrito durante o acolhimento e
lançado no ano passado pela editora carioca Multifoco.
“Contrariando regras/ Por muito tempo vivi/Viver o contrário/ Foi o
que escolhi/ Nadar contra a correnteza/ Muitas vezes eu quis/ Um anjo ao
avesso/ Foi o que fui/ Vivi o que escolhi/ Tão triste fiquei/Num ser
solitário me tornei/ Basta! Cansei! / Hoje eu quero/ Contrariar essa
regra/ Nadar contra/ Essa corrente/ Tornar-me um anjo contente”
Os versos acima traduzem o transbordamento da vontade de fazer
diferente. Foi assim, no lirismo, que o poeta, escritor, professor,
historiador e jornalista alagoano Pedro César da Silva encontrou suporte
para enfrentar o sofrimento causado pelas drogas durante grande parte
de sua vida.
Tudo começou aos 18 anos, quando se viciou em cigarro e bebidas
alcoólicas. Aos 24, ainda na escola, conheceu a maconha. “As pessoas
mais invejadas fumavam maconha. Eu queria fazer parte daquele grupo.
Foram longos anos usando maconha”, confessou.
Pedro casou, teve duas filhas, mas manteve o uso da maconha. Após 8
anos, veio a separação. Amargurado com o fim do relacionamento, entrou
em depressão e conheceu a cocaína.
O descontrole no uso da substância o fez procurar um hospital
psiquiátrico onde foi internado três vezes. “O tempo foi passando e eu
não conseguia largar a droga. No ano em que eu completaria 40 anos,
conheci o crack”, contou.
Deu início, então, a uma fase de angústia cujo sentimento afastou
amigos e familiares. “Sou funcionário público concursado, mas perdi a
credibilidade. Tive que me afastar do trabalho por invalidez, porque as
pessoas não confiavam mais em mim”, detalhou.
“Quando pensei que tudo estava perdido, um amigo acendeu uma luz. Ele
me contou sobre as comunidades terapêuticas voltadas para dependentes
químicos”, descreveu. As comunidades citadas pelo amigo são da Rede
Acolhe e oferecem acolhimento gratuito custeado pelo Governo do Estado
por meio da Secretaria de Estado de Prevenção à Violência (Seprev).
“Este é apenas um dos grandes exemplos de superação fruto dos
resultados da Rede Acolhe. A Seprev vem apoiando a iniciativa dando
suporte para que o trabalho produtivo e de reinserção social seja feito
de forma plena”, enfatizou o secretário de prevenção à violência, Jardel
Aderico, ao receber o escritor nesta quinta-feira (14) na sede da
secretaria.
Após duas recaídas em acolhimento, foi na Comunidade Bom Samaritano,
localizada em Penedo, que veio a terceira chance do poeta.“Cheguei lá
desacreditado, tomando remédios controlados, andava robótico. Tive
oportunidades que não esperava mais ter na vida”, relembrou.
O jornalista está há um ano fora da comunidade. “Estou limpo até
hoje. Botei na minha cabeça que nada é motivo para se drogar. Qualquer
pessoa que chegar ao fundo do poço pode subir. Como dizia Clarice
Lispector: “tudo começa com o sim”, finalizou.
Aos 50 anos, o historiador é autor de três livros: Absoluto Obsoleto,
escrito e lançado em 1994, Janelas (sobre noites e bêbados), de 2009 e
“A palavra vira poesia”, escrito durante o acolhimento e lançado no ano
passado pela editora carioca Multifoco.
Por Blog Adalberto Gomes Notícias com Agência Alagoas
Nenhum comentário