FPI do São Francisco visita possível sítio paleontológico em comunidade quilombola de Aguazinha, em Carneiros –AL

Foto.: Bruna Cordeiro 

No sertão alagoano, onde a resistência quilombola se entrelaça com a força da natureza e das tradições, a FPI do São Francisco encontrou em Aguazinha mais do que histórias de luta. Na comunidade, que abriga cerca de 120 famílias, moradores narram a existência de um possível sítio paleontológico ligado às memórias de um animal pré-histórico conhecido como Zamba, criatura lendária do imaginário sertanejo, semelhante a uma preguiça gigante.

A visita, realizada na quarta-feira, 20, pela equipe Comunidades Tradicionais e Patrimônio Cultural (CTPC), abriu caminho para que os relatos ancestrais ganhem voz científica, em uma atuação que une proteção ambiental, memória cultural e esperança de desenvolvimento para a região.

O momento mais marcante da visita ocorreu com o relato do senhor Miguel, um ancião que trouxe à memória histórias antigas sobre a presença de um animal pré-histórico, semelhante a uma preguiça gigante, que teria habitado a região, que a comunidade chama de “Zamba”. Ele indicou à equipe uma área próxima à Lagoa Nova, onde vestígios poderiam apontar a existência de um sítio paleontológico. Os técnicos registraram a geolocalização do espaço e encaminharão as informações ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que será demandado para que realize a análise técnica. Caso se confirme a relevância arqueológica, o local poderá ser protegido oficialmente, em parceria com a comunidade.

Membros da comunidade encostados em batente, em fila.Para o procurador da República Érico Gomes, membro do Núcleo de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural do MPF em Alagoas, a descoberta merece especial atenção: “É fundamental que sejam realizados estudos técnicos para confirmar se estamos diante de um sítio paleontológico. Caso isso se comprove, será preciso adotar providências para garantir sua preservação. Essa proteção é importante não apenas para o meio ambiente e para a memória do povo brasileiro e sertanejo, mas também pode representar uma oportunidade de desenvolvimento sustentável para a região”.

Além do patrimônio cultural, a visita permitiu ouvir outras demandas urgentes. Outro ponto de destaque da visita foi o microssistema de abastecimento de água potável. As comunidades quilombolas Malhador 1 e 2, Várzea da Esteira e Lagoa do Algodão já estão sendo beneficiadas e usufruindo da água potável. Em Aguazinha, a adutora apresentou problemas, mas as falhas foram corrigidas há cerca de 15 dias e, nos próximos dias, o sistema deve ser ligado definitivamente após ajustes em três pontos de vazamento.

Max Luiz, assessor de Governança e Transparência, da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (SemarhSobre essa conquista, Max Luiz, assessor de Governança e Transparência, da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh), ressaltou que “levar água de qualidade até as casas dessas famílias é garantir dignidade e condições reais de permanência no território". Esse microssistema é fruto de uma atuação conjunta do governo e mostra como políticas públicas podem transformar o dia a dia da comunidade.

Na área da saúde, os moradores relataram falta de medicamentos essenciais, como insulina e remédios para hipertensão e anemia falciforme. Consultas especializadas em áreas como neuropediatria e psiquiatria demoram tanto que muitas famílias acabam arcando com atendimento particular. A distância até Olho d’Água das Flores, onde há oferta mais regular de medicamentos, também pesa, já que não há transporte disponível.

Elis Lopes, coordenadora da Rede Mulheres de Comunidades Tradicionais, durante sua fala.A educação é outra preocupação constante. Embora a escola seja nova, a distância e o tempo de deslocamento no transporte escolar dificultam a rotina de crianças pequenas, que passam horas no trajeto diário.

O articulador estadual do Projeto Dom Hélder Câmara (PDHC III), vinculado ao Ministério de Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), Humberto Santos, trouxe orientações sobre documentação, acesso a políticas públicas e formas de fortalecer a organização coletiva. “Importante que o povo quilombola entenda a necessidade do Cadastro Ambiental Rural (CAR) coletivo, o qual viabiliza o Cadastro Nacional da Agricultura Familiar (CAF Quilombola), que é individual, não exige propriedade de imóvel rural, e dá acesso a diversos programas federais”, esclareceu.

A equipe de Comunidades Tradicionais e Patrimônio Cultural da FPI é coordenada pelo antropólogo do Ministério Público Federal (MPF), Ivan Farias, e conta com a participação do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Fundação Cultural Palmares, Ministério de Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), Rede Mulheres de Comunidades Tradicionais (RMCT) e da ONG Agendha – Assessoria e Gestão em Estudo.

Por Ascom MPF-AL 

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