O dia que o Cangaço chorou: 79 anos da morte de Lampião
Imagem dos bando de Lampião mortos |
28 de julho de 1938, uma madrugada fria de uma quinta-feira do inverno
nordestino que entraria para a história. Há exatamente 79 anos, os
cangaceiros Colchete, Marcela, Quinta-Feira, Luiz Pedro, Mergulhão,
Elétrico, Alecrim, Moeda, Enedina, Maria Bonita, Virgulino Ferreira da
Silva, o Lampião, tombam ao barulho ensurdecedor das espingardas
escopetas no solo árido da Grota de Angicos, no município de Poço
Redondo (SE).
A morte de Lampião e seu bando, embora tenha ocorrido no Estado
sergipano, fora planejada e articulada em Alagoas, no governo de Osman
Loureiro, que não dava trégua aos cangaceiros. O governador alagoano
colocou como ponto de honra a captura desses homens que procuravam fazer
justiça com as próprias mãos e aterrorizavam a população do Sertão.
Depois de anos de perseguição, o cerco a Lampião aumentava até que as
volantes sob o comando do tenente João Bezerra, aspirante Francisco
Ferreira e sargento Aniceto Rodrigues conseguiram o êxito de descobrir o
coito (local), onde os cangaceiros se refugiavam para descanso. Quem
deu a dica do lugar que ficava às margens do Rio São Francisco, em
território sergipano, fora os coiteiros, irmãos Pedro e Durval de
Candido, que residiam em Piranhas, na vila Entremontes. Fizeram isso sob
a pressão dos policiais.
O planejamento de chegar até à Grota de Angicos e surpreender os
cangaceiros ocorrera na noite anterior ainda em Alagoas. Detalhado o
plano, o passo seguinte fora atravessar o São Francisco de canoa no
embalo da correnteza e embrenhar-se na Caatinga. Maria Bonita, ao
levantar, fora uma das primeiras a ser atingida pelos tiros. Ela,
Lampião e mais nove morreram no local, do total de 36. Os demais se
evadiram. Do lado das volantes, morreu o soldado Adrião.
Cessado o fogo, os soldados cometeram a atrocidade de cortar as
cabeças dos cangaceiros e levá-las a Piranhas. O município serviu de
palco para a exposição das cabeças dos cangaceiros que ainda percorreu
algumas cidades sertanejas até serem levadas para o Instituto de
Medicina Legal Nina Rodrigues, em Salvador.
A morte do cangaceiro Corisco, que pertencia ao bando de Lampião e
liderava um grupo, em Miguel Calmom, na Bahia, em 25 de maio de 1940, em
combate com a volante do tenente Zé Rufino marca o fim do cangaço no
Nordeste, mas o cangaço entra para a história do Brasil, com Lampião, o
mais famoso cangaceiro, que era oriundo de Vila Bela, hoje cidade de
Serra Talhada (PE).
E O QUE MUDOU?
O cangaço foi um fenômeno social bastante importante para a história
das populações exploradas dos sertões brasileiros. Existem registros que
datam do século XIX e que nos mostram a existência deste fenômeno por
mais ou menos dois séculos. O cangaço só se tornou possível graças ao
desinteresse do poder público e os desmandos cometidos pelos coronéis e
pela polícia com a subserviência do Estado.
O sertão nordestino sempre foi tratado de forma desigual em relação à
região litorânea, e o fenômeno da seca sempre foi utilizado para
manutenção dos privilégios da elite regional. O fenômeno social do
cangaço não deixa de ser uma reação a este modelo desumano de ocupação
do território brasileiro, e à altíssima concentração de renda e de
influência política.
O governo brasileiro nunca ofereceu os direitos básicos, fundamentais
aos sertanejos; o Estado jamais ofereceu educação, saúde, moradia,
emprego o que tornou a sobrevivência no sertão complicada; o único braço
estatal conhecido na região é a polícia, que, como sabemos, age na
defesa do “status-quo”, é prepotente e intimida.
O poder dos coronéis do sertão era o que prevalecia em detrimento dos
direitos fundamentais da população. A economia sertaneja era
basicamente a criação de gado para o suprimento do país, a carne do
sertão abastecia os engenhos de açúcar e as cidades do Brasil. O sertão
historicamente foi ocupado com a pecuária.
Passado 79 anos a realidade do sertão nordestino não mudou muito; o
cangaço se foi e no lugar surgiram pistoleiros de aluguéis que moram no
asfalto; e os coronéis de antigamente hoje estão espalhados e
infiltrados nos três poderes, gozando de foro privilegiado. A seca ainda
vitima milhões de sertanejos, que continua sendo tratada da mesma forma
assistencialista do passado. Finalmente, a corrupção continua a mesma;
mudaram os personagens e a moeda.
Por Blog do Didi
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