Mulher que foi chamada de "monstro" faz cirurgia com doações de médicos
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Luciene Anselmo de Faria, 30 anos, carrega no rosto um novo sorriso.
Não só um sorriso mais bonito, mas também um sorriso que estampa a
felicidade de quem começa a viver alegrias depois de muito tempo
sofrendo com comentários e brincadeiras maldosos.
Natural de
Peruíbe, Luciene nasceu com a síndrome de microssomia hemifacial,
caracterizada por deformidades assimétricas do rosto. O valor do
tratamento foi sempre algo fora de sua realidade. Muito por causa do
problema que possuía, ela não concluiu os estudos e nem arrumou emprego.
O bullying, porém, acompanhou Luciene da infância à vida adulta. "Já me
chamaram de bruxa de Halloween quando eu passei maquiagem, já falaram
que eu ó iria conseguir arrumar serviço se fosse numa loja de
monstras... Numa entrevista de emprego, chegaram a me dizer que entre a
perfeita e a imperfeita, eles escolheriam a perfeita", lamenta ela ao UOL.
O sofrimento se estendia à vida familiar. Luciene conta que uma ofensa
de sua ex-sogra, dita depois de uma briga sua com o então marido, fez
ela tomar a decisão de buscar ajuda. "Ela dizia para ele: 'tanta mulher
bonita e você foi escolher logo essa, cheia de defeito'".
À
época, Luciene soube que o dentista Wagner Nascimento daria uma palestra
numa universidade em Santos. Terminado o evento, ela e outras pessoas
abordaram o profissional para tirar dúvidas. "Ninguém ali tinha um caso
parecido com o meu, mas perguntei a ele se tinha tratamento e ele me
encaminhou ao doutor Alessandro", explica.
Doações e cirurgia
Doutor Alessandro é como ela se refere ao dentista Alessandro Silva. O
profissional, dono de uma formação que inclui mestrados, doutorado e
fellowship em instituições como Unesp, USP, Unicamp e University of
Pacific (EUA), tem como especialidade a traumatologia
buco-maxilo-facial.
Alessandro recebeu Luciene em seu
consultório e se sensibilizou com sua história. Decidiu então contatar
Marcelo Quintela, especialista em Ortopedia Funcional dos Maxilares e em
Ortodontia e Ortopedia Facial. Ambos já haviam trabalhado juntos em
casos de pessoas que, assim como a nova paciente, não tinham condições
financeiras de se tratar.
Alessandro e Marcelo iniciaram então
uma mobilização. Contataram profissionais da área, organizaram uma
campanha de recursos, centralizados no Instituto Religar, e prepararam
Luciene para a cirurgia que reconstruiria sua face.
"Era
dinheiro não só para medicação, mas para pagar passagens, exames que o
plano não cobria... Tiramos muito dinheiro do bolso, mas não me importa.
O importante é estimular as pessoas a buscarem tratamento, a
contribuírem e depois a continuar contribuindo", afirma Alessandro ao UOL.
Luciene usou um aparelho ortodôntico especial durante um ano e meio.
Até que no último dia 6 de abril, num hospital de Santos, passou por uma
cirurgia de cerca de 11 horas que resultou no seu novo sorriso.
Vida nova
Alessandro, que comandou a operação, ficou satisfeito com o resultado.
"Meu objetivo principal desde o início neste caso era que ela fosse
aceita socialmente.
Queria que não olhassem mais duas vezes para ela
na rua e pensassem: 'que mulher estranha'. O resultado foi muito do que
planejei. Ela está mais bonita".
Luciene, é claro, também ficou feliz. "Feliz e preocupada", ressalta.
"Há um longo caminho pela frente", complementa, ciente de que terá que
continuar uma reabilitação funcional, que inclui sessões de
fonoaudiologia e fisioterapia – tudo com profissionais que embarcaram no
projeto de Alessandro e Marcelo e ajudam voluntariamente.
Separada, mãe de uma menina de nove anos e de um menino de sete ("os
dois falaram que estou mais bonita"), Luciene se prepara para mais uma
mudança. E outra mudança para melhor: a sonhada oportunidade de trabalho
chegou um mês depois da cirurgia, e ela partirá para o Rio de Janeiro
para trabalhar como atendente de uma empresa de telefonia celular.
"Acredito que eu possa ser um exemplo pra outras pessoas", conclui.
Por Uol Notícias
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