Jovem com paralisia cerebral quebra preconceitos e se forma em Química pela Uece
Era dezembro de 1990, Neuma Alexandrino Loiola, cearense natural de
Tauá, esperava ansiosa o seu primeiro filho. Calebe Alexandrino
Veríssimo nasceu no dia 19 daquele mês, com três quilos e meio, e uma
diferença: o garoto foi diagnosticado com paralisia cerebral.
Diferença que os pais garantem ser também a única. “Desde pequeno
sempre foi tratado normalmente, e o estimulamos para que tenha uma vida
independente”, conta Neuma. Calebe cresceu e venceu: em 16 de dezembro
de 2015, 2 dias antes do seu aniversário e 23 anos após o seu
diagnóstico, o jovem conquistou o título de licenciatura em Química pelo Centro de Educação, Ciências e Tecnologia da Região dos Inhamuns (Cecitec), unidade acadêmica da Uece em Tauá.
Durante o parto, Calebe teve falta de oxigenação no cérebro, o que
lhe causou restrições na fala, na escrita e na locomoção, mas não em seu
intelecto. Pelo contrário, ele aprendeu a ler tão cedo quanto a maioria dos meninos da sua idade, e
esse foi apenas a primeiro passo. “Ele frequentou escolas normais, e em
toda sua vida nunca ficou de recuperação!” diz orgulhosa Neuma,
que conta que a paixão de Calebe por cálculos também se repete no seu
filho mais novo, Filipe Alexandrino Veríssimo.
A unidade da Uece em Tauá atende 3 cursos: Química, Biologia e
Pedagogia. O curso de exatas foi a escolha do jovem, que ingressou na
faculdade aos 18 anos. Cumprindo o período regular de 4 anos e meio, ele
se formou com louvor, sendo “um aluno acima da sua deficiência”,
como descreve o professor e diretor do Cecitec, João Batista. “Ele
sempre foi um aluno excelente, tirava notas acima da média, nunca faltou
uma aula e estava sempre sorridente”.
Durante o curso, o jovem químico também foi bolsista do Programa Pibid
(Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência), sendo
monitor, onde visitava as escolas do ensino médio da cidade e fazia
participação dos shows de química com peças teatrais.
A mãe de Calebe relembra que, até os 6 anos de idade, o garoto teve o
acompanhamento de profissionais de saúde, como fisioterapeuta e
terapeuta ocupacional, e até foi ao Hospital Sarah Kubitschek, em
Brasília, em busca de orientações para o tratamento de Calebe. Contudo,
ela aponta que a fé em Deus e o apoio da família foram essenciais formação do filho.
“A família tem que perceber que uma criança com esse tipo de problema
pode ter uma vida normal. O Calebe, por exemplo, é saudável e não toma
nenhum tipo de medicação. O estímulo começa em casa. Falta motivação, os
próprios pais têm preconceito e não acreditam no
potencial do filho. Tem que acreditar que eles podem. Eles têm suas
dificuldades, mas também algo especial que deve ser explorado”.
Além da participação do pai Valdônio, da sua avó Laurinda e
dos professores, tanto no colégio quanto na faculdade, Calebe também
contou com o apoio dos colegas. “Ele não tem muita coordenação motora
para escrever, alguns professores aplicavam uma prova oral, ou na
maioria das vezes ele fazia prova escrita, igual aos outros. A diferença
é que ele ditava a questão e a pessoa escrevia. Ele nunca foi diferenciado, o estilo da prova é o mesmo, prova escrita ou oral”, garante o diretor do Centro.
No curso, ele conheceu Jérica, uma amiga que também o ajudou, quando
copiava para ele as atividades e anotações feitas pelos professores.
Quanto aos planos para o futuro, Calebe pretende seguir em frente e fazer especialização ou mestrado.
“Ele é um exemplo de superação, e que não há limites para quem quer sonhar em ser alguém”, conclui o professor João Batista. E o novo químico também manda um recado: “As pessoas não devem desistir dos seus sonhos”.
“Ele é um exemplo de superação, e que não há limites para quem quer sonhar em ser alguém”, conclui o professor João Batista. E o novo químico também manda um recado: “As pessoas não devem desistir dos seus sonhos”.
Por Tribuna do Ceará
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