Samu agiliza processo de transplantes de órgãos em Alagoas
Samu faz o transporte dos potenciais doadores de órgãos com morte encefálica Foto: Carla Cleto |
No momento em que um paciente
está com diagnóstico de morte encefálica, começa uma verdadeira corrida
contra o tempo para preservar os órgãos e tecidos desse possível doador,
conforme a Resolução número 2.173/2017 do Conselho Federal de Medicina
(CFM). Com esta confirmação, a Central de Transplantes precisa fazer o
deslocamento de potencial doador para a uma unidade hospitalar que faz a
captação dos órgãos e, para isso, é acionando o Serviço de Atendimento
Móvel de Urgência (Samu).
Esse procedimento é realizado por
meio de uma Unidade de Suporte Avançado (USA), composta por um médico,
um condutor socorrista e um enfermeiro. “Isso é necessário porque o
doador se encontra entubado e com drogas vasoativas para
manter o coração batendo, preservando a circulação e a oxigenação nos
órgãos”, explica Maxwell Padilha, coordenador médico do Samu Maceió, ao
salientar que, em alguns casos, um médico também é designado para
acompanhar o transporte.
E além de transportar um potencial
doador de órgãos com morte encefálica, o Samu também pode fazer o
transporte de pacientes que irão receber os órgãos, mas, cujo
procedimento não é realizado em Alagoas. Entre esses transplantes está o
de fígado, por exemplo, onde muitas vezes o receptor deve ser
encaminhado para o Recife (PE).
Em outras situações, no
entanto, quando onde não existe urgência para o procedimento, o
receptor é encaminhado por meio do Tratamento Fora de Domicílio (TFD),
também mantido pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesau). Além do
transporte de doadores, o Samu Alagoas eventualmente faz o deslocamento
do órgão captado para a cirurgia de transplante.
Somente neste ano foram transportados
dois fígados para o Recife. O mais recente aconteceu no dia 18 de
abril, salvando a vida de uma criança diagnosticada com hepatite
fulminante.
Morte Encefálica – Para
existir a confirmação da morte encefálica, é necessária a realização de
exames clínicos, feitos por dois médicos diferentes, com intervalo
mínimo de uma hora. Além destes procedimentos, o potencial doador também
passar por um exame de imagem, que pode ser o doppler transcraniano,
eletroencefalograma ou arteriografia para comprovar se não existe fluxo
sanguíneo no cérebro ou atividade elétrica.
Após esse processo, a família do
possível doador é perguntada sobre a vontade de autorizar a doação de
órgãos do seu ente querido. Uma vez autorizada à doação, são realizados
exames sorológicos e de histocompatibilidade para saber se o potencial
doador não tem nenhuma doença que poderia impossibilitar o transplante,
como hepatite, Aids, sífilis e ver a compatibilidade com os futuros
receptores dos órgãos.
De acordo com Daniela Ramos,
coordenadora da Central de Transplantes de Alagoas, um único doador pode
salvar até oito vidas, sendo possível a captação de rins, córneas,
coração, pulmão, pâncreas e fígado. No momento, Alagoas ainda não
realiza o transplante de fígado e, por isso, é captado e ofertado para a Central Nacional de Transplantes, que indica para qual estado o órgão irá.
“A maioria dos doadores são
provenientes do HGE [Hospital Geral do Estado], mas o procedimento de
captação não é feito lá. Então, por conta disso, precisamos do auxílio
do Samu para fazer o transporte até uma unidade hospitalar credenciada
pelo Ministério da Saúde. Se não tivéssemos esse apoio do Samu, não
haveria captação e, consequentemente, o transplante”, salientou a
coordenadora.
O processo de captação de órgãos é
feito pelos médicos plantonistas da própria Central de Transplantes, e
pode ser realizado em Maceió, na Santa Casa de Misericórdia, Hospital
Arthur Ramos, Hospital do Açúcar e Hospital Vida.
Para o major Dárbio Alvim, supervisor
do Samu, a participação do serviço é essencial e indispensável no
processo de doação e transplante de órgãos no Estado. “Mesmo não sendo
um caso de urgência e emergência, pessoas estão precisando do órgão
naquele momento, e todo esse procedimento precisa ser feito o mais
rápido possível”, afirmou.
Segunda Chance – A agonia pela
espera para um transplante de rim foi vivenciada duas vezes por José
Eriberto Pinheiro, 58 anos. Ele desenvolveu uma nefrite, inflamação nos
rins, quando ainda tinha 22 anos de idade e recebeu a notícia da
necessidade de ficar dependente de sessões de diálise para o resto da
vida.
“Sempre soube aproveitar a vida muito
bem, era muito vaidoso e, nessa idade, nem se fala. Logo que recebi a
notícia não consegui aceitar o fato de que teria que ficar ligado a uma
máquina durante 4 horas, três vezes na semana”, contou o corretor de
seguros.
Esse sentimento de revolta durou oito
meses, quando o rapaz mudou de Natal (RN) para Maceió (AL), e ficou
cerca de 13 dias sem fazer o procedimento. Depois de noites sem dormir,
vômitos e o corpo inchado, sabia que deveria fazer uma sessão de
diálise, se quisesse melhorar aquela situação.
“Foi a primeira vez que achei que
fazer diálise era uma maravilha, depois dessa primeira sessão que fiz
aqui em Maceió. Com isso, percebi que seria com aquele procedimento que
iria me manter bem, enquanto não aparecesse um órgão e fizesse o
transplante”, lembrou.
Em 1999, Eriberto recebeu a notícia
de que seria transplantado, e aquele pesadelo da diálise iria
desaparecer para sempre. A cirurgia foi um sucesso e em oito dias
recebeu alta. No entanto, depois de cinco anos de ter recebido o novo
rim, houve complicações e a doença que atingiu os primeiro rim atacou
novamente.
Eriberto voltou para as sessões de
diálise e para a fila de transplante na esperança de um novo rim. Por
causa das fortes medicações, e o desgaste causado pelo tratamento, o
corretor de seguros precisou fazer, em 2011, uma cirurgia cardíaca para
fazer um implante de uma válvula mitral.
“Dois anos após a cirurgia no meu
coração, minha irmã decidiu doar um dos rins para mim. Foi uma alegria
enorme saber que estava tendo uma segunda chance e eu sabia que dessa
vez tudo iria dar certo com esse transplante”, recorda Eriberto.
“O pós-operatório dessa vez foi
terrível, fiquei 126 dias internado, houve necrose em parte desse órgão.
Mas consegui me recuperar e hoje sigo a risca todas as orientações
médicas, tomando corretamente todos os remédios. A cada três meses faço
meus exames, tenho uma boa alimentação e me exercito para aguentar a
rotina do dia-a-dia”, contou o corretor de seguros.
Em 2016, o Samu Alagoas realizou
cinco transportes desse tipo. No ano passado, esse número subiu para 15
doadores, devolvendo a esperança de uma nova vida para pessoas que estão
na fila de espera por um órgão.
Por Blog Adalberto Gomes Notícias com Agência Alagoas
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