Arapiraca se torna líder em ocupações no Nordeste e protesto é contra "Escola Livre"


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 Encravada no semiárido alagoano, Arapiraca (130 km de Maceió) se tornou o maior polo de ocupações de estudantes no Nordeste contra a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) do Teto e contra a reforma do ensino médio.

Ao todo, sete unidades estavam ocupadas até esta terça-feira (7). Com cinco escolas e as duas universidades ocupadas, os estudantes têm um item a mais na pauta de reivindicação: a revogação da Lei da Escola Livre --ou "lei da mordaça", como chamam--, em vigor em Alagoas e que determina a neutralidade dos professores em sala de aula.

Arapiraca pode ser considerada o berço do projeto, que tem regras similares ao Escola Sem Partido. A lei alagoana foi proposta por um deputado estadual da cidade, Ricardo Nezinho (PMDB), que foi candidato a prefeito --e perdeu a eleição por 259 votos. A lei foi alvo constante da campanha de seus adversários e alvo de críticas dos estudantes.

Nas unidades ocupadas na cidade, é comum ver cartazes contra a lei. "A educação tem que ser plural, discutir gênero, política, religião. Se não for na escola, onde vai ser esse debate? O projeto tira a autonomia do professor, pois a LDB [Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional] fala em concepções ideológicas", afirmou Rodolfo Oliveira, 21, estudante de história da Uneal (Universidade Estadual de Alagoas).

"A gente é totalmente contra a lei da mordaça. A gente quer a revogação dessa lei, que é inconstitucional, como afirmou o procurador Rodrigo Janot disse na ação do STF [Supremo Tribunal Federal]", completa Ana Paula da Silva, 21, também universitária de história.

Também há críticas também aos investimentos na educação local. "A Uneal tem o menor orçamento entre todas as universidades públicas do país. Faltam professores. E essa PEC afeta os repasses [aos Estados], e claro que seremos impactados", disse Rodolfo Oliveira.

Ocupações interligadas

Em Arapiraca, as ocupações ocorrem de forma interligada, com comunicação e ações em conjunto. "Existe um diálogo entre as ocupações, e isso é muito legal. Por exemplo, se falta alimento em uma, nós mandamos, e isso ocorre com outras instituições", explica Leandro Alves, 28, que também cursa história na Uneal.
Além da ocupação, os estudantes realizam uma série de atividades, como a "caça a talentos" de dança, música, desenho e teatro.

A estudante de pedagogia Gilvânia dos Santos, 22, diz que os grupos ainda sofrem com o preconceito de que as ocupações seriam "bagunça".

"Dizem que somos uma minoria, mas somos uma minoria que sabe os impactos que a PEC irá causar. Não quero voltar ao tempo dos nossos pais, quando um pobre do sítio não podia pensar em estudar. E não quero que meu filho passe por isso", afirmou Santos.

Filha de uma família com dez irmãos da zona rural pequeno município de Feira Grande, no semiárido alagoano, ela conta que os pais não podem a ajudar financeiramente, e a universitária se sustenta com a bolsa que recebe e pelo estágio que tem. "Se não fosse essa oportunidade, não teria como estar aqui, por isso lutamos pelo aumento do investimento em educação", disse.

Primeira ocupação desfeita

A primeira escola ocupada no Estado, a Manoel Lúcio, ficou ocupada por 21 dias, até essa segunda-feira, quando foi desocupada por ordem judicial.

A ocupação se tornou um símbolo de luta no município e contou com aluno de outras escolas, como Daniel Rodrigues, 20, que estuda em outra escola, a Padre Jefferson de Carvalho. "Estou na luta aqui porque sei que é pelos nossos direitos", afirmou.

Letícia Oliveira, 19, aluna do 1º ano, conta que, apesar de lutarem contra a Lei da Escola Livre, nem todos os professores apoiaram. "A maioria está neutra. Poucos manifestaram apoio, mas há muita mídia contrária. Essa decisão de adiar o Enem foi colocar estudante contra estudante", reclamou.

Por Uol

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