Comunidade em Pariconha, AL, constrói casas de tijolos feitos com cinzas do bagaço da cana-de-açúcar

Além da família da Dona Maria, projeto busca atingir ainda mais comunidades (Foto: Jonathan Lins/G1)
Dona Maria Ana da Conceição mora com os dois filhos e quatro netos em uma casa de taipa (pau a pique) de apenas dois cômodos e sem banheiro na comunidade Jeripancó, no município de Pariconha, Sertão de Alagoas. Assim como ela, cerca de 50 pessoas vivem na comunidade em moradias sem nenhum conforto ou privacidade.

Mas esta realidade está prestes a mudar. A partir de uma parceria firmada entre uma fundação alagoana sem fins lucrativos, o Instituto federal de Alagoas (IFAL) e a prefeitura do município, os moradores de Jeripancó estão construindo casas de alvenaria, com tijolos produzidos com cinzas do bagaço da cana-de-açúcar.

 “Vai ser muito bom sair daqui e ir pra uma casa maior. Moro aqui [na casa de taipa] há mais de 50 anos e eu sei que vai ser melhor pra meus filhos e netos. Disseram que a casa não vai esquentar e que vai ter um lugar para colocar o fogão”, comemora Dona Maria.

Os tijolos ecológicos, feitos a partir das cinzas do bagaço da cana-de-açúcar, foram criados pelas estudantes do IFAL Samantha Mendonça, 24, e Taísa Tenório, 25, para baratear as construções e levar moradia digna a famílias carentes. Foram anos de pesquisa até o projeto final, premiado na categoria Science, da Genius Olympiad, evento realizado nos Estados Unidos.

Mas para que esse sonho saísse da teoria da sala aula, era preciso investimento financeiro. Agora, 4 anos depois, o projeto está sendo posto em prática.

Os moradores de Jeripancó aprenderam as técnicas de produção dos tijolos para que eles pudessem construir as próprias casas. Aline, filha da dona Maria Ana, lembra o empenho da comunidade, que produziu seis mil tijolos em menos de 10 dias, o necessário para a construção da casa toda.
Casas estão sendo construídas para beneficiar famílias carentes no interior do estado (Foto: Jonathan Lins/G1)

“Botamos a mão na massa. Puxar o ferro [a prensa onde é colocada a massa para fabricar o tijolo] ficou para os homens. A gente avalia a terra, peneira, aí depois de peneirado, coloca no carro com cimento”, lembra Aline.

As moradias de taipa na comunidade não têm banheiro, água encanada, ou rede de esgoto. A maioria tem apenas uma sala e um quarto sem porta. O banheiro é comunitário e afastado das casas.

O fogão a lenha é improvisado no meio da sala, o que deixa o local ainda mais quente. As casas novas terão três quartos, banheiro, cozinha e um espaço destinado para o fogão a lenha.

A casa de taipa onde a família de Dona Maria mora é feita com barro e madeira. Esse tipo de moradia atravessa gerações, mas um dos principais problemas é que a estrutura favorece a proliferação de insetos, principalmente o barbeiro, transmissor da doença de Chagas.

Para quem vive no improviso, a casa de alvenaria será a realização de um sonho. Dona Maria dorme em uma cama de casal com dois netos, a filha divide outra cama de solteiro com outras duas crianças, e o filho fica em uma rede na sala.

Ela já imagina até a divisão dos cômodos para a nova moradia. “Um quarto é de Aline mais as meninas. O outro é do rapaz [o filho]. E o outro é meu e dos outros meninos”, afirma a idosa.

“Morar em uma casa cheia de barbeiro, e passar pra uma casa como essa [com tijolos] é uma glória. A gente agradece primeiramente a Deus”, comemora dona Maria.
Capacitação e execução do projeto

A capacitação dos moradores da comunidade foi realizada pela equipe do IFAL, que ganhou mais dois integrantes para dar continuidade ao projeto inicial.

“A gente sabe que muitos projetos são feitos e arquivados. E fazer parte desse projeto e entregar e participar do sonho dessa família que é tão carente é muito gratificante. É muita emoção, torcemos que seja replicado em outras comunidades”, diz uma das novas integrantes, a estudante de engenharia civil, Juliana Brito.

A orientadora do projeto, a engenheira civil Sheyla Marques, explica que a Fundação Alcace entrou em contato com o IFAL de Palmeira dos Índios e foi firmada uma parceria para construir as casas com os tijolos ecológicos.

“Foram quatro anos de pesquisa e viabilizar o tijolo. Nossa maior dificuldade era disponibilizar o projeto para a comunidade, como pensado desde o início. Até que veio essa parceria com o IFAL e a Alcance”, afirma.

Novo grupo de estudantes agora dá continuidade ao projeto (Foto: Jonathan Lins/G1)
Para os tijolos ecológicos saírem da teoria, além da parceria com a fundação Alcance, foi necessário um projeto de extensão, o Casa Solidária. Os alunos do IFAL participaram de uma competição onde eles teriam que fazer a planta baixa de uma casa com um orçamento de R$ 7,5 mil. O modelo de casa vencedor seria construído na comunidade.

Quem ganhou o desafio foi o estudante de engenharia civil Arthur Amaral. Ele conta que a produção dos tijolos feita pela própria comunidade barateou os custou.

“Como a comunidade construiria o tijolo, então ficou bem mais em conta. Porém, mesmo assim, foi um grande desafio fazer uma casa com três quartos, banheiro, cozinha e sala, com o orçamento apertado. Além disso, tinha o espaço para o fogão a lenha. Nosso medo era que a casa ficasse quente, mas com os estudos que fizemos, vai dar tudo certo”, afirma Amaral.

Por G1/AL

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