Texto que veta uso pelo Facebook de conteúdo publicado na rede social 'não serve para nada'
Declaração circula desde 2012 no Facebook, mas não tem qualquer efeito prático
Imagem circulada no Facebook |
Ele voltou. Um texto que circula há alguns anos no Facebook com uma
declaração em que o usuário proíbe o uso de qualquer conteúdo postado
por ele pela rede social voltou a ser bastante publicado nos últimos
dias - uma medida sem qualquer efeito prático, segundo a empresa e
especialistas.
Desde que surgiu pela primeira vez, o post já
ganhou diferentes versões, todas com a mesma essência: declara o perfil
como privado e veta a "divulgação, cópia, distribuição ou qualquer outra
ação" de imagens, informações ou publicações, "tanto do passado como do
futuro", pelo Facebook e organizações controladas pela empresa.
A razão disso seria o fato da rede social ter passado a ter suas ações
negociadas em bolsa. "O Facebook agora é uma entidade de capital
aberto", explica o texto, o que denuncia há quanto tempo ele é divulgado
no site, já que a companhia abriu seu capital em 2012.
Por fim, afirma que não, ao não publicá-lo em seu perfil, a pessoa está "tacitamente" permitindo o uso de suas publicações.
O problema é que, ao se cadastrar no site e aceitar seus termos de uso,
o usuário deu uma autorização explícita para o Facebook usar
comercialmente os dados de seu usuário. E a publicação de uma declaração
como esta não invalida a aceitação dessas condições.
"Não
existe isso de consentimento tácito. Todo ambiente digital tem suas
próprias regras, normas que governam seu uso. Todo usuário aceitou esses
termos de uso. Declarações pessoais feitas pelos usuários não se
sobrepõem aos termos de uso da plataforma", afirma Carlos Affonso Souza,
diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro e
professor de Direito da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
"Por isso, não publicar o textão tem o mesmo efeito de publicá-lo:
nenhum. Salvo o aborrecimento dos amigos que precisam ficar lendo essas
declarações de independência autoral sem qualquer base."
No
campo "Direitos e Responsabilidades" de seus termos, a rede social diz
que o usuário retém os direitos de propriedade intelectual dos conteúdos
que posta, mas, ao publicá-los em seu perfil, dá ao Facebook uma
licença para usá-los e mostrá-los dentro de seu sistema.
À BBC
Brasil, a rede social disse que "sempre circulam rumores de que o
Facebook está fazendo mudanças relacionadas à propriedade da informação e
do conteúdo que as pessoas postam na plataforma. Isso é falso."
"Qualquer um que utilize o Facebook é dono de seu conteúdo e controla a
informação que posta, como deixamos claro em nossos termos de serviço.
Toda pessoa na plataforma controla como seu conteúdo e sua informação
são compartilhados. Essa é e sempre foi a nossa política."
Autorização
O fato de suas ações serem negociadas em bolsa não afeta esse contrato
aceito pelos usuários ao abrirem suas contas. "O Facebook ter virado
empresa de capital aberto não muda em nada no que diz respeito aos
termos de uso aceitos pelos seus usuários", diz Souza.
Ele
explica que, em relação a direitos autorais, é comum haver uma cláusula
determinando que o que for postado pode vir a ser usado pela empresa que
explora a rede social.
Geralmente, trata-se de uma licença
global, não remunerada e não exclusiva que permite que a companhia possa
usar as fotos esse conteúdo publicado online.
"Por (essa
licença) ser não exclusiva, o usuário permanece como titular dos
direitos sobre suas criações, mas, ao aceitar os termos de uso, autoriza
que a empresa também use aquilo que ele coloca na plataforma", diz o
especialista.
"Então não adianta postar declarações unilaterais,
que não estão de acordo com os termos de uso nem amparadas por qualquer
previsão legal que daria a elas o poder de revogar os termos que foram
previamente acordados pelo usuário ao entrar na rede social."
Identificando um boato
Mas esse não se trata do único boato que circula no site. Outro
recorrente afirma que a rede social passaria a cobrar para manter um
perfil como uma página privada, caso a mensagem não seja publicada nele.
E também já foi negado pela empresa.
Mas como, então,
identificar estes boatos e não ser enganado? Thiago Tavares,
especialista em Direito da Informática e presidente da ONG Safernet, dá
algumas dicas:
Pergunte-se de onde veio a informação: muitos
textos não costumam citar fontes, dificultando saber se é confiável. Não
clique em eventuais links e busque em sites oficiais e de notícias para
checar detalhes, como as leis mencionadas na mensagem sobre privacidade
de dados: a "UCC 1 1-308-308 1-103" não existe, por exemplo, e o
Estatuto de Roma existe, mas não trata de redes sociais.
Leia os
termos de compromisso: é trabalhoso, mas essencial ao se cadastrar em
um site. Se já os aceitou, leia novamente para relembrar. No caso do
Facebook, é informado que seus dados podem ser usados comercialmente e
compartilhados com serviços atrelados à rede, como jogos e sites de
compras. Nenhum texto publicado no perfil anula esta autorização. Foi
uma condição aceita para participar da rede.
Visite a seção de
"configurações": no seu perfil, você pode mudar as configurações de
privacidade e decidir quem, da sua rede de amigos e do público em geral,
consegue ver seus dados e postagens e escolher que tipo de anúncios
você não deseja receber, ainda que a empresa mantenha com ela os dados
usados para saber quem você é e do que você gosta.
Baixe seus
próprios dados: por meio da seção "Geral" das configurações do Facebook,
você pode obter uma cópia dos dados que a rede possui sobre você. É uma
maneira prática de entender o que exatamente o site sabe sobre você e
ter uma noção de o quão exposto está.
Por Uol Notícias
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