Saúde: Terapia assistida: projeto utiliza cães no tratamento em crianças autistas

  • Mariane Rodrigues *estagiária Fotos: Cortesia

Em uma das salas do Campus IV do Centro Universitário Cesmac, a cadela Wendy aguarda o primeiro paciente a ser atendido por ela naquele dia. Aos colaboradores, um pedido de silêncio. Qualquer barulho pode interferir na concentração do menino André Ferreira, que entra para a sua primeira sessão no Focinhos Terapeutas.
Mariane Rodrigues *estagiária Fotos: Cortesia


Pais e mães têm procurado novas intervenções para o tratamento dos filhos que possuem a Síndrome de Asperger – Transtorno Global de Desenvolvimento, que engloba o autismo. O projeto Focinhos Terapeutas é uma alternativa que tem mostrado resultado no desenvolvimento físico, psicológico e social das crianças.

O autismo é um transtorno que afeta principalmente a capacidade de o indivíduo interagir com o seu meio, prejudicando sua comunicação verbal e não verbal e dificultando o relacionamento com outras pessoas. Além disso, a criança autista não consegue discernir ruídos sonoros, absorvendo todo o barulho à sua volta.

O Focinhos Terapeutas funciona no CESMAC, em quatro salas para receber 25 crianças autistas de comunidades da parte alta de Maceió e do interior de Alagoas. Todas as terças-feiras, o projeto de extensão atende gratuitamente com acadêmicos de Fisioterapia, Educação Física, Nutrição, Psicologia, Medicina Veterinária, Enfermagem e agora de Medicina para um tratamento multidisciplinar com o auxílio de cães.
Mariane Rodrigues *estagiária Fotos: Cortesia
 Segundo a pesquisadora, zoóloga, mestre em educação física, fundadora e coordenadora do projeto, Maja Kraguljac, a presença do animal suaviza o tratamento, fortalece os laços afetivos e contribui no desenvolvimento motor, psicológico, fisiológico e social destes pacientes que possuem aspectos físicos, sociais e psicológicos tão afetados. A aplicabilidade dos exercícios assistidos exige uma série de preparos, treinamentos de cães e colaboradores e todo um ambiente bem preparado para receber os autistas.

O acadêmico em Educação Física, que integra a equipe, Ravi Agra Rocha, explica que a inserção do autista no tratamento de Terapia Assistida por Animais (TAA) acontece de maneira gradual, para que o paciente absorva a presença do animal da maneira mais natural possível. E quando a criança demonstra temor pelo cachorro, o desafio é ainda maior, porque a interferência do animal precisa ser significativa e gradual para a obtenção dos resultados.

“Aqui o cão serve como recompensa para que a criança faça as atividades. Mas essa relação entre os dois [cão e autista] é construída aos poucos. Se houver uma resistência por parte da criança, a gente começa, por exemplo, com ela fazendo um carinho com as luvas, ou nós [acadêmicos] fazemos demonstrações de carinho com o cão”, afirma o acadêmico.

Em seu primeiro dia, o menino André apresenta claros sinais de hiperatividade. Ravi Agra Rocha tem uma difícil tarefa a partir deste instante: a de manter André focado na cadela. E isso é complexo por dois motivos: primeiro porque o garoto autista pergunta insistentemente aos presentes quem pode emprestar a ele um telefone celular – André, um grande apreciador de jogos eletrônicos, não está interessado nenhum um pouco no que as pessoas à sua volta têm a dizer. E segundo, porque ele tem medo de cães.

Mariane Rodrigues *estagiária Fotos: Cortesia

Ravi explica que o medo que as crianças sentem do animal parte muitas vezes dos próprios pais. “Quando isso acontece [medo dos pais], citamos, por exemplo, artigos científicos que comprovam os benefícios que os cães levam às crianças. Dessa forma, os pais podem contribuir para tirar esse medo dos filhos, deixando-os mais confortáveis quando eles sabem que o cão não é uma ameaça e sim um grande amigo”, exemplifica.

A mãe Roseane Araújo Xavier Melo - cujo filho, Rodrigo Araújo, 10, foi diagnosticado com autismo moderado – admite que no início teve medo do que os cães poderiam fazer com o filho, já que ele não tem noção dos possíveis riscos que enfrenta, mas aos poucos essa percepção foi mudando. “O fato de ter pessoas preparadas para promover essa interação entre meu filho e cão me deixou mais relaxada. Eles são muito cuidadosos, profissionais e dedicados, isso fez mudar meu conceito sobre a terapia. Inclusive, hoje temos o nosso próprio cão em casa”, ressalta.

No caso do André, é preciso que no seu primeiro dia o contato físico com Wendy seja evitado, prevalecendo apenas o contato visual. Lápis de colorir são colocados em suas mãos e papeis sob a mesa, enquanto o acadêmico Ravi o instrui a sentar-se, a observar a cadela posta à sua frente e a desenhá-la. Percebe-se, que apesar de abster o autista do contato físico com a cadela, esta não deixa nenhum momento de fazer parte da atividade desenvolvida pelo professor.

Todo o tratamento é personalizado às necessidades específicas da criança, como acontece com André. “Ele é uma criança que tem muito medo de cachorros, mas não podemos isentar o cão da sua responsabilidade enquanto terapeuta. A nossa estratégia para ele, no primeiro encontro, foi a de manter um contato visual, à distância, para ele desenhar a cadela. Isso permite que ele a observe mais detalhadamente na forma e no comportamento”, enfatiza Ravi.

Após muita paciência de Ravi e o esforço mútuo dos colaboradores para convencer André a desenhar Wendy, o interesse dele pela cadela aumenta ainda na primeira sessão. Entre uma frase e outra, o menino pergunta pelo nome, idade, e comenta sobre a tonalidade de cores dos pelos de Wendy. Até que, por fim, os resultados iniciais da interação entre André e Wendy são concretizados por meio da finalização do desenho das características físicas da terapeuta.

Por Sete Segundos

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