Número de adolescentes grávidas com menos de 14 anos cresce em Alagoas
Imagem Ilutrativa |
A gravidez na adolescência continua sendo um sério problema de saúde
pública no Estado, conforme revelou a pesquisa da estudante de
Enfermagem da Universidade Federal de Alagoas, Caroline Tenório Guedes.
Em seu trabalho de conclusão de curso, ela fez o mapeamento de meninas
que engravidaram nas faixas etárias de 10 a 14 e de 15 a 19 anos.
De acordo com o estudo, no período de 2000 a 2010, o número de
adolescentes alagoanas grávidas, com idade de 10 a 14 anos, cresceu
4,16%. Em 2000, o número de nascidos vivos de meninas nessa faixa etária
foi de 797 e em 2010, chegou a 836.
“Esse é um dado preocupante que merece maior atenção, pois, além de ser
uma gestação de alto risco, manter relação sexual com meninas de 10 a
14 anos é considerado crime de estupro de vulnerável. Assim, é
importante dar visibilidade a essas informações para que gestores,
profissionais de saúde e educação possam buscar estratégias que protejam
essas jovens e também os filhos delas”, destacou a estudante.
Os dados globais sobre a diminuição no número de adolescentes grávidas
são do Ministério da Saúde e podem ser relacionados a diversos fatores,
como o acesso a métodos contraceptivos e ao aumento do nível de
escolaridade das jovens que, diante de novas perspectivas de vida, têm a
oportunidade de se dedicar a outros projetos e planejar o momento de
engravidar.
“Quando analisamos as faixas da adolescência de 10 a 14 e de 15 a 19
anos separadamente, percebemos que essa redução não ocorre igualmente e
se dá somente nas adolescentes maiores de 15 anos. Apesar da gravidez
precoce ser tão discutida, percebemos a amplitude que esse evento ainda
possui no Estado, sendo presente em todas as cidades, independente do
porte ou do índice de desenvolvimento humano”, declarou a responsável
pela pesquisa.
Mapa da gravidez na adolescência em Alagoas
Sob orientação da doutora em Enfermagem e professora da Ufal, Ruth
Trindade, Caroline fez o levantamento de quantas adolescentes tiveram
filho no período de 2000 a 2010, a partir das estatísticas referentes
aos 102 municípios alagoanos disponíveis no Sistema de Informação de
Nascidos Vivos (Sinasc) do DataSUS/Mistério da Saúde. Com base nesses
dados, a estudante calculou a taxa de fecundidade das jovens de 10 a 19
anos e traçou um mapa da gravidez na adolescência em Alagoas, que foi
apresentado como seu trabalho final de graduação.
As cidades de Capela, Japaratinga e Feira Grande foram as que
apresentaram o maior crescimento de casos de gravidez em adolescentes de
10 a 14 anos na última década. No ano 2000, por um grupo de mil
mulheres, 0,92% das meninas capelenses ficaram grávidas até os 14 anos;
em 2010, esse número foi para 5,85%. Em Japaratinga, de 2,36% em 2000
foi para 14,42% em 2010. Já em Feira Grande, de 1,48% para 7,63%.
No ano 2000, os municípios de Roteiro (20,41%), Barra de Santo Antônio
(18,21%) e Feliz Deserto (13,70%) foram os que apresentaram as maiores
taxas de fecundação por mil mulheres na faixa etária de 10 a 14 anos. Já
em 2010, Japaratinga (14,42%), São Luís do Quitunde (16,03%) e,
novamente, Feliz Deserto (15,81%) lideraram a lista de adolescentes
grávidas com idade inferior a 14 anos.
“Embora possa parecer que os dados estejam superados por conta dos anos
que se passaram, é importante ressaltar que as transformações sociais
não se operam rapidamente e esse comportamento social pode estar se
perpetuando”, explicou a professora Ruth Trindade.
Redução na faixa etária de 15 a 19 anos
Ainda conforme a pesquisa feita pela estudante de enfermagem, de 2000 a
2010, houve redução de 20,06% na taxa de fecundidade entre as jovens
alagoanas de 15 a 19 anos. Segundo Caroline, essa redução aponta para o
fato, tal como avaliou a Organização das Nações Unidas (ONU), de que os
esforços e recursos para evitar a gravidez na adolescência têm se
concentrado em meninas maiores de 15 anos.
“Apesar da redução nessas idades, em 2010, Alagoas ainda apresentou uma
taxa de fecundidade próxima à da América Latina e Caribe, a segunda
maior no mundo. No estado, registrou-se 79,16 nascimentos por mil
mulheres de 15 a 19 anos; na América Latina e Caribe, são 80 nascimentos
por mil na mesma faixa etária”, explicou a pesquisadora.
Em Maceió, a diminuição foi nas duas faixas de idade: de 10 a 14 anos,
redução de 5,25% para 5,01%; de 15 a 19 anos, de 89,99% para 73,21%.
Algumas evidências para próximos estudos
O Mapa da gravidez na adolescência em Alagoas elaborado pela estudante
Caroline Tenório Guedes se delimitou à análise dos dados disponíveis no
Sinasc do DataSUS, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), Atlas do Índice de Desenvolvimento Humano dos Municípios
(IDHM/2013) e Departamento de Atenção Básica/Cobertura Populacional da
Estratégia de Saúde da Família. Não houve contato com as adolescentes
para investigar, in loco ou subjetivamente, as condições socioeconômicas
em que vivem.
“Com base nos dados oficiais, pudemos constatar que os municípios com
IDHM baixo ou médio apresentaram aumento de jovens grávidas com idade
inferior a 14 anos”, esclareceu a orientadora do trabalho.
A professora explicou também que o adolescente é um público que
raramente procura as unidades de saúde. “Por isso, a necessidade de um
trabalho de promoção e prevenção para que eles possam tomar a melhor
decisão sobre a vida sexual”, ressaltou Trindade. “O acesso à saúde está
intimamente relacionado ao empoderamento, por isso a importância das
adolescentes terem suas necessidades atendidas de forma eficiente”,
completou Caroline.
Por Sete Segundos com Ufal
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