Seu José Francisco Silva, representou os sertanejos em evento para a pré-estreia da novela Velho Chico da Rede Globo, no Rio de Janeiro


José Francisco Silva em evento no Rio de Janeiro

Esteve representando  os sertanejos, seu José Francisco Silva,  no Museu do Amanhã no Rio de Janeiro, para  a pré-estreia da novela da Globo, Velho Chico.

O evento chamado “Vozes do Velho Chico”, tem como objetivo lembrar os aspectos do passado e do presente do sertão brasileiro em apresentações e debates. O evento ocorreu  na última segunda - feira (7), no Estado do Rio de Janeiro. Durante  o evento seu José Francisco deu um testemunho de vida e de amor pelo Velho Chico.

A novela Velho Chico  está sendo gravada nos estados de Alagoas, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Rio Grande do Norte.  Estreia prevista para a próxima segunda - feira (14), a partir das 21h.

Conheça a história de seu José Francisco Silva.

  Aos 76 anos, Zé Francisco, um senhor simples, grisalho e franzino, embrenha na mata branca, liderando trilhas “interpretativas” da caatinga.

Dono de uma pousada no sertão de Alagoas, Zé Francisco é um guia para desvendar as belezas da caatinga e dos cânions do rio com o qual divide um nome

 O árido sertão alagoano arde sob um sol de 47°C de fins de novembro. Não há uma única nuvem no céu azul. Olhando rapidamente, parece uma terra castigada, feita de rochas, pedregulhos, galhos retorcidos, folhas ressecadas e cactos, muitos cactos. Mas é ali, nos cânions do Rio São Francisco, que o agricultor José Francisco Silva para e diz: “Não é linda a caatinga?”

Zé Francisco é um senhor simples, grisalho e franzino. Aos 76 anos, veste sandálias sertanejas, camiseta surrada e chapéu de palha. Diariamente ele se embrenha na mata branca, liderando trilhas “interpretativas” da caatinga: a cada passo, compartilha conhecimentos sobre o bioma, que abriga 178 espécies de mamíferos, 117 de répteis, 591 de aves, 241 de peixes e 221 de abelhas — e, a cada palavra, o solo, que se apresentava inóspito, vai ganhando vida. “É craibeira, juazeiro, macambira, imburana, umbuzeiro... Se a gente se perde no sertão, dá pra improvisar cordas com as fibras das árvores, escovar os dentes com as folhas de juá, arranjar água dos caules e dos frutos. É um mundo inteiro”, conta Zé Francisco, esfregando o leite de uma folha nos braços torrados pelo sol.

A transposição deste velho Chico se deu em dezembro de 2005, quando o agricultor aposentado, que dedicou duas décadas à instituição filantrópica Fundação de Amparo ao Menor, a Fundanor, saiu da cidadezinha de Traipu e fincou raízes nos confins de Delmiro Gouveia, a 300 km de Maceió, onde construiu o Mirante do Talhado. Na época, Zé Francisco foi tido como forasteiro louco, por abrir uma pequena pousada no fim do mundo, mas teimou: construiu chalés simples e rústicos — para não dizer brutos —, que por fim atraíram diversos visitantes e lhe renderam reconhecimento inclusive do Ministério do Turismo, em 2010.

Mirante do Talhado, às margens do Rio São Francisco, em Alagoas. Foto: Juliana Sayuri

A fama de desbravador visionário se alastrou pelo sertão, e Zé Francisco ficou marcado como o “mago” da caatinga, por seu tom reverencial e seus trejeitos carismáticos, quase místicos. Seu Mirante avista o Riacho Talhado e os cânions do Rio São Francisco, com lugares para a prática de rapel, tirolesa e trilhas, atividades de aventura que o senhor septuagenário faz sem pestanejar. Em 2011, a novela Cordel Encantado, da Rede Globo, foi gravada ali. Na trama, uma carruagem despencava de um desfiladeiro. 

Zé Francisco acompanhou a gravação da cena em que a peça se arrebentava nas rochas do rio. Voltou no dia seguinte, fez rapel no desfiladeiro e resgatou a carruagem estraçalhada que, depois de uma reforma, decora a entrada de seu Mirante.
Carruagem que foi cenário de novela da Globo para enfeitar a entrada de seu mirante.
 
A principal trilha da região tem 2,5 km. Seria uma travessia simples, não fossem as altíssimas temperaturas. Zé Francisco pede para que os visitantes andem em fila indiana, para não alargar o caminho e, assim, causar menos impacto à caatinga. “Gostou? Mas é só pra olhar, viu?”, diz. “Não queira levar pedras, fruto ou folha de lembrança. Deixa pra que o próximo também tenha a oportunidade de ver essa beleza.” Depois da caminhada, é preciso descer uma escada de madeira improvisada para molhar os pés e finalmente mergulhar nas águas verdes do famoso rio.

Zé Francisco se tornou uma das principais lideranças dos ribeirinhos no projeto Caminhos do São Francisco,  que buscam desenvolvimento socioeconômico com o turismo ecológico nos cânions. “O viajante é bem-vindo, mas minha irmãzinha...”, diz à meia voz, como quem confessa segredos do sertão, “a gente precisa ter uma palavrinha amiga para dizer para a mãe terra — e é de cabeça baixa, sinal de respeito”. E cabisbaixo, Zé Francisco suspira: “Tudo isso era mar, dá pra imaginar? Mas secou... E quando secou ficaram fendas ‘pedrificadas’, que um dia tiveram uns 150 metros de altura. O vento, o sol, o tempo talharam essa belíssima escultura”. Na caatinga, o velho Chico tenta ensinar, vale a máxima: “A beleza está nos olhos de quem vê”.

Por Blog Adalberto Gomes Notícias com informações da Uol e Caminhos do São Francisco

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