Vaivém da CPMF expõe um desgoverno tonto
Aprovada por apenas 8% dos brasileiros, Dilma Rousseff é a presidente
mais impopular do Brasil pós-redemocratização. Preside duas crises, uma
política e outra econômica. Numa, conta votos no Câmara para evitar a
abertura de um processo de impeachment. Noutra, cavalga uma ruína que
combina três elementos de alta combustão: recessão, inflação e
desemprego. Contra esse pano de fundo, a presidente decidiu testar a
paciência alheia propondo a recriação da CPMF. A ideia durou 48 horas.
Serviu apenas para potencializar a impressão de que Dilma tornou-se
gestora de um desgoverno.
Proposta
pelo ministro Joaquim Levy (Fazenda), a ressurreição da CPMF começou a
morrer numa conversa de Michel Temer com Dilma. O telefone do
vice-presidente soou perto das 17h de quinta-feira, quando a novidade já
estava pendurada nas manchetes. Ele dirigiu à presidente duas perguntas
singelas: 1) o Levy já consultou os empresários? 2) a senhora já conversou com os líderes no Congresso? Não! O governo não consultura ninguém.
Temer
tomou distância da encrenca. E previu que o governo arrostaria nova
derrota no Congresso. Dilma respondeu que contaria com o apoio dos
governadores. Na noite de sexta-feira, num jantar com governadores do
Nordeste, em Fortaleza, a presidente tomou um choque de realidade. Até o
piauiense Wellington Dias, do PT, levou o pé atrás. Resultado: inflado
na quinta, o balão da recriação da CPMF murchou neste sábado, após
reunião de Dilma com os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e
Nelson Barbosa (Planejamento). O Planalto informa que a ideia continua
no forno. Pode ressurgir num futuro debate sobre a diversificação das
fontes de financiamento da Saúde.
Se a tentativa de trazer de
volta a CPMF desafiava a paciência, o lero-lero segundo o qual o tributo
irrigaria o orçamento da Saúde ofende a inteligência das ruas. O
ministro Levy trouxe o imposto-defunto à mesa como salvação
para um buraco de R$ 80 bilhões no Orçamento da União de 2016. A peça
orçamentária tem de ser enviada ao Congresso nesta segunda-feira. Quer
dizer: o desgoverno dispõe de poucas horas para providenciar uma mágica
nova.
Por Uol.
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