Agricultor em PE divide água e desiste de 'namorar' para salvar animais da seca

Morador de Sertânia (PE), Damião Serafim, 63, usa o pouco que consegue poupar da aposentadoria para comprar milho para sua criação de ovelhas e carneiros
 A vida de Damião Serafim, 63, parece parada no tempo. Morador do sítio Brabo Novo, em Sertânia (a 313 km do Recife), há pelo menos seis anos ele vive como tantos na região-- a agonia da pior seca do século.

Mas a rotina de Serafim guarda algumas particularidades. Sem capim para dar aos animais, ele decidiu investir parte do pouco que tem para garantir comida e água a seus cerca de 50 carneiros e ovelhas. Abriu mão também daquilo que chama de seu maior lazer: sair com mulheres.

"Tem que dividir o pouco que tenho com os animais. Eu como um pouquinho menos, eles também comem um pouco menos, e a gente vai vivendo assim", diz.

Em meio à caatinga, é comum ver animais mortos. A maioria é abandonada pelos donos, que desistem de criá-los por falta de pasto e água.

Mesmo com os cuidados, Serafim contabiliza que, nos últimos dois anos, perdeu ao menos 40 animais para a desnutrição. "Não tem como salvar todos, é difícil viver assim", comenta.

"Antes eles me sustentavam, e agora eu sustento eles"

  
A pequena casa de Serafim não tem água encanada nem energia elétrica. São os candeeiros que a iluminam à noite. Na janela, em vez de vidro ou madeira, há tijolos.

Figura conhecida na região pela sua alegria e dedicação aos animais, Serafim se aposentou em 2014. Recebe um salário mínimo (R$ 937) de benefício, que hoje é sua única fonte de renda.

Ele conta que tem de comprar ao menos quatro sacos de milho por mês, a R$ 65 cada, para alimentar os animais que tem. Fora isso, gasta também com a manutenção do pequeno cercado onde eles vivem e com a água, --que é obrigado a comprar, tanto para ele como para os animais.

"Antes eles me sustentavam, e agora eu sustento eles. É justo, não é?", questiona.

Há pelo menos dois anos, Serafim não consegue vender animais. Com a seca, eles perderam valor de mercado. "Se eu der hoje, ninguém quer. Não tem o que dar a eles, é só despesa", diz.

"Viver que nem bicho"
A magra criação de ovelhas de Serafim
Sem vender e gastando tudo que tem em comida e água, o dinheiro não sobra para o que diz ser o lazer que mais gosta. "Sabe, eu gosto demais desse negócio de mulher, mas agora desmantelou tudo. Se eu for, os bichinhos não comem, porque o dinheiro não dá", conta o agricultor. "Chegou vez, no tempo melhor, de eu ir toda sexta-feira no posto aqui perto onde tem umas mulheres. Era muito bom, mas faz tempo que não vou", completa.
Serafim nunca casou e diz que resolveu "viver que nem bicho". "Agora vou até o fim", diz.

O modo de vida dele o fez um apaixonado pelos animais. Eles parecem entender e se aproximam em busca de seu carinho. Em troca, lambem a mão do dono, num gesto pouco comum a esses animais. "É tudo assim comigo. Eles sabem o quanto gosto deles e eles vêm", conta.

Prova da fidelidade dos animais é que saem de perto, com desconfiança, se é outra pessoa que se aproxima. "Não adianta, eles sabem que só eu faço isso", afirma, orgulhoso da vida que leva em meio ao nada no sertão pernambucano.

Por Uol

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