Burocracia impede que pomada da Ufal que cura feridas do HPV chegue ao mercado

Pomada revolucinária foi desenvolvida com planta local (Fotos: ASCOM-UFAL)

Pesquisa foi desenvolvida pela Ufal e recebeu a patente internacional há três anos, mas ainda está longe de ter a produção realizada
A cura de doenças é uma dos principais objetivos da ciência. Quando esse objetivo é alcançado, causa uma revolução no mercado farmacêutico e medicinal ao levar novas possibilidades de tratamento para os pacientes com problemas antes incuráveis.

Uma pesquisa da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) alcançou este marco quando lançou, há mais de três anos, uma pomada que cura as feridas do HPV, que, até hoje, não está disponível no mercado.

Inédita em todo o mundo, a fórmula criada pelos pesquisadores Manoel Álvaro, professor da Faculdade de Medicina da Ufal e Luiz Carlos Caetano, professor do Instituto de Química da Ufal, obteve resultado mais do que satisfatório. A eficácia do medicamento atingiu resultado de 100% de melhora nos 50 alagoanos cobaias na pesquisa.

O HPV, o papiloma vírus humano, é uma doença sexualmente transmissível e pode ser responsável pelo câncer de colo do útero nas mulheres. A infecção por HPV é o problema mais comum de ser transmitido pelo sexo.

Partindo de um ingrediente comum, uma crença popular e uma receita simples, a pomada utiliza o princípio ativo tanino, oriundo da casca da barbatimão, planta comum no litoral brasileiro. A melhora total nas verrugas genitais e anais pode ser vista em até oito semanas. O remédio não tem efeitos colaterais nem contraindicações e se mostra eficaz até mesmo em pacientes portadores do HIV, que tem cicatrizações dificultadas pela baixa do sistema imunológico.

O medicamento também seria mais barato do que os disponíveis atualmente no mercado, que não são específicos para o problema. Segundo os professores, a fórmula alagoana poderia ser vendida por R$ 40 e cura as feridas, sem possibilidade de retorno, enquanto as opções disponíveis chegam a custar até R$ 200 e resolvem parcialmente a doença.

Seria um sucesso total e já deveria estar a disposição para venda, não houvessem entraves processuais e jurídicas na pesquisa. Desenvolvida entre 2002 e 2007, apenas em 2013 a universidade conseguiu patentear a substância nos Estados Unidos, mas segue sem a patente brasileira e sem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Para que o produto chegue aos consumidores e a Anvisa possa liberar o remédio, a pesquisa precisa ser ampliada para mais duas fases, com testes em mais pacientes de diferentes características e em diferentes localidades no país.

Diante da situação, centenas de pacientes que buscam a fórmula enchem a caixa de e-mails dos professores e da universidade com pedidos. Os infectados ofertam dinheiro e se oferecem como cobaias para o projeto, mas a resposta é de que a primeira fase de testes já foi encerrada e nada pode ser feito.

Se o fornecimento dessa substância antes do reconhecimento da Anvisa for realizado, pode-se caracterizar falta de ética científica para os pesquisadores e todo o processo pode ser anulado. "É muito difícil você encontrar uma pessoa que precisa da sua ajuda até pra comer, vir lhe oferecer dinheiro pela fórmula. Infelizmente, a gente não pode fazer nada", revelam os professores.

Um dos interessados é Lucas Oliveira, de Brasília-DF. Ele tomou conhecimento do remédio em pesquisas na internet e entrou em contato com a Ufal para adquirir a pomada, mas foi informado de que a fase de teste da pesquisa já havia se encerrado. "O processo atual é muito doloroso e muita gente desiste do tratamento. Um remédio tão efetivo e indolor gera muito interesse" explica.

PATENTE
A substância já foi patentada nos Estados Unidos, o que garante a exclusividade da fórmula em um dos principais mercados farmacêuticos do mundo.

De acordo com a coordenadora no Núcleo de Inovação e Tecnologia da Ufal (NIT), Eliana Almeida, a universidade busca aperfeiçoar os processos de patenteamento de produtos.

"Os processos do INPI são muito complexos, e as patentes podem demorar até 10 anos para serem adquiridas", revela Eliana.

Quando a pomada de barbatimão surgiu, o núcleo era recém criado na Ufal, e seus servidores ainda passavam por treinamentos. Os pesquisadores acreditam que este foi um dos fatores da demora no processo. "A Ufal comemora agora 55 anos de existência, e quantas patentes internacionais ela tem? Apenas a nossa. Não faltou boa vontade, e empenho da gestão com a nossa pesquisa, mas com certeza faltou experiência".

A universidade agora incentiva pesquisas de produtos inovadores para aumentar o número de patentes. No mundo científico, o número de patentes que a instituição possui é um dos critérios para avaliação de qualidade da universidade. "Nós temos o PIBITI [Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação] para incentivar as boas ideias. Algumas delas estão em andamento e já dão bons frutos para a Ufal", comenta Eliana.
Burocracia
Com o término da primeira fase de testes, a Ufal colocou a fórmula a disposição do mercado farmacêutico por duas vezes. Mesmo assim, nenhum laboratório interessado entrou em contato com o NIT. Algumas empresas esperaram os editais da universidade se vencerem, para que a negociação acontecesse pessoalmente com os pesquisadores. "Eles [os laboratórios] se 'assustam' com um contrato com a universidade, como um órgão federal. Agora, algumas empresas estão entrando em contato conosco", revelam. Antes da entrevista com a Gazetaweb, os pesquisadores estavam em conferência com um dos interessados.

As entraves para a produção do produto e a simplicidade da fórmula geraram um mercado ilegal do produto. Sem o devido controle sobre a qualidade e procedimentos adotados na produção, a fórmula é vendida ilegalmente por diversos comerciantes na internet.

Por Thyeres Medeiros | Portal Gazetaweb.com

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