Infectologista condena automedicação em casos de zika e chikungunya
Comportamento pode esconder sintomas e agravar o quadro das doenças
Reações aos medicamentos podem ser divididas em duas grandes categorias: tóxicas e alérgicas |
A
automedicação é definida como ato de administrar remédio sem prescrição
médica, sendo que a seleção e o uso de medicamentos são realizados por
indivíduos inaptos para tal, cujo objetivo é encontrar o alívio imediato
para o corpo e a alma. Entretanto, quando se está com zika ou febre
chikungunya, os cuidados devem ser redobrados, uma vez que a prática
pode ter como consequência o agravamento dessas doenças e levar o
paciente a óbito. Deste modo, todo cuidado é pouco na hora de receitar
medicamento para si próprio e para quem está ao seu lado.
Um
estudo conduzido pelo Instituto de Ciência Tecnologia e Qualidade
(ICTQ), em 2014, descobriu que 76,4% dos brasileiros admitiram tomar
remédios por conta própria. Entre os que adotaram essa prática, 32%
tinham o hábito de aumentar as doses de medicamentos prescritos por
médicos com o objetivo de “potencializar os efeitos terapêuticos”, o que
também é considerado uma forma de automedicação.
Ainda
no grupo dos que tomavam remédio por conta própria, 72% afirmaram que
confiavam na indicação de medicamentos feita pela família, 42,4% na
indicação de amigos, 17,5% pela indicação de colegas de trabalho ou
estudo, e 13,7% na indicação de vizinhos. O estudo, afirmou ainda, que
61,4% das pessoas que se automedicavam estavam conscientes sobre os
riscos.
Segundo
o infectologista da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), José Maria
Constant, os medicamentos que não devem ser tomados quando se está com
suspeita de dengue, também é válido para os casos de zika e febre
chikungunya. “Por conta dos sintomas semelhantes, o paciente com
suspeita de dengue pode estar com zika ou chikungunya e, por incrível
que pareça, até gripe”, alerta.
A
zika se manifesta geralmente com dores leves, febre baixa, manchas
avermelhadas na pele e nos olhos; algumas infecções podem nem ser
acompanhadas por qualquer sintoma. A doença, transmitida pelo mesmo
mosquito da dengue, foi apontada pelo aumento de casos de microcefalia
no país, o que preocupa as autoridades de saúde.
O
vírus também está por trás de um aumento da incidência da febre
chikungunya, uma doença que provoca febre alta, acompanhada de dor de
cabeça e muscular, erupções na pele, conjuntivite e dor nas
articulações, que chega a impedir os movimentos e pode perdurar por
meses depois que a febre vai embora.
Algumas
medicações estão formalmente contraindicadas. É o caso do ácido
acetilsalicílico (Aspirina) – mais conhecida pela sigla AAS. Por isso,
muito cuidado com todos os medicamentos, mas essencialmente com os
antigripais. Vários deles contém ácido acetilsalicílico em suas
fórmulas. Todos os medicamentos que o contém não devem, portanto, ser
utilizados. Se o indivíduo usar o AAS e não for zika, e sim dengue, o
risco de complicações é muito alto, já que o remédio pode causar
hemorragias. Recomenda-se baixar a febre com o paracetamol ou dipirona.
Outro
grupo de medicamentos contraindicados são os anti-inflamatórios
hormonais e não hormonais, tais como o ibuprofeno, nimesulida ou
diclofenaco. Como podem causar efeitos colaterais graves como toxicidade
para as células do fígado e dos rins, gastrite e úlcera, entre outros,
só devem ser utilizados sob prescrição e acompanhamento médico.
É
preciso considerar que tanto na zika quanto na chikungunya pode haver o
comprometimento de plaquetas, assim como existe, quase sempre, na
dengue. “Quando há uma diminuição extrema de plaquetas no sangue, a
tendência a apresentar fenômenos hemorrágicos é alta”, garante. “O AAS é
muito bom no dia a dia, em pequenas doses, pois evita que o paciente
tenha agregação plaquetária e trombose. Mas também pode ser muito
prejudicial, quando usado num paciente com dengue, devido às
hemorragias, embora possa ocorrer em pacientes com zika e chikungunya”,
frisa.
Além
das pequenas erupções na pele com pontos brancos ou vermelhos, a zika e
a chikungunya também provoca coceira na pele na maioria dos casos.
Logo, o uso de sabonetes e maquiagem deve ser evitado, porque a coceira
da doença aliada ao do cosmético podem agravar os sintomas ainda mais.
As
ervas dos mais variados tipos utilizadas sob a forma de chá, como o
capim-limão, erva-cidreira, hortelã, o sabugueiro e a camomila, por
exemplo, não vão trazer nenhum mal à saúde dos pacientes com sintomas da
zika ou chikungunya. Contudo, apenas vão hidratar.
“É
preciso mais conhecimento sobre essas doenças, uma vez que elas são
novas no Brasil e suas complicações ainda não foram totalmente
descritas. A prescrição só deve ser feita por médicos e odontólogos, já
que são as únicas categorias que estão aptas a receitar os
medicamentos”, declara.
Risco para gestantes e bebês
Conforme
o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), da
Fiocruz, a Fundação Oswaldo Cruz, a automedicação é a principal causa de
intoxicação no Brasil, ficando à frente de produtos de limpeza e
alimentos. E para as grávidas esse risco pode ser muito maior.
De
acordo com o infectologista, alguns medicamentos são capazes de não só
ultrapassar a barreira placentária e causar modificações morfológicas e
neurológicas no feto, mas podem agir na ocasião da concepção e
implantação do óvulo. Podem causar aborto espontâneo, anormalidades
congênitas, retardo do crescimento intrauterino e retardo mental, além
da exposição a fármacos na primeira fase do desenvolvimento embrionário,
podendo matar o feto e a mulher nunca saber que ficou grávida.
Reações adversas
Segundo
Constant, as reações aos medicamentos podem ser divididas em duas
grandes categorias: tóxicas e alérgicas. Os efeitos tóxicos
desenvolvem-se após a ingestão prolongada de um medicamento ou quando
ele se acumula no sangue devido ao metabolismo.
“Se
o indivíduo usar determinado tipo de medicamento na dose certa, durante
pouco tempo, ela não vai lesar órgão nenhum. Caso ele utilize em dose
excessiva, por um longo período, esse órgão será prejudicado”,
assegurou.
As
reações alérgicas constituem também outro tipo de resposta
imprevisível, já que um paciente pode se tornar imunologicamente
sensibilizado à dose inicial de um medicamento. Com a administração
repetida, ele desenvolve uma resposta alérgica ao medicamento e a seus
conservantes químicos.
Por Blog Adalberto Gomes Noticias com Agência Alagoas
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