Baião, ritmo que correu o mundo completa 70 anos
Canção estourou nas rádios um ano antes de asa branca e deu ao cantor título de rei
Luiz Gonzaga |
Amantes da música de Luiz Gonzaga celebraram no último dia
22 de maio, os 70 anos da gravação da música “Baião”, que imortalizou o cantor e
seu parceiro em composições, o advogado Humberto Teixeira.
“Baião”
é um divisor na carreira de Gonzagão. Em 1945, ele havia gravado seu
25º disco como sanfoneiro - e o primeiro como cantor. Foi neste mesmo
ano que ele conheceu o poeta cearense e advogado Humberto Teixeira. A
parceria durou até o início da década de 50.
Em 22 de maio de
1946, com os dois, veio o sucesso que transformou Gonzagão em “Rei do
Baião” e “Seu Januário”- pai de Luiz Gonzaga- o “Vovô do Baião”.
Um ano depois, 3 de março de 1947, saiu o hino do Nordeste - para o cancioneiro popular: Asa Branca.
Segundo
o forrozeiro e pesquisador dos ritmos nordestinos, Anderson Fidellis,
“Baião”, originalmente, foi gravada em maio de 46. Em outubro, Gonzagão e
o conjunto Quatro Ases e um Coringa - o mais famoso da época do rádio
brasileiro - voltaram ao estúdio e regravaram o ritmo nordestino. Dois
anos depois, Luiz Gonzaga faz nova regravação de “Baião”. O sucesso é
maior.
“O baião foi o primeiro ritmo nordestino a ser difundido em cadeia nacional e, posteriormente, mundial”, disse Fidélis.
Segundo
ele, o ritmo era uma das modalidades do lundu - de origem dos escravos
bantos, trazidos de Angola na escravidão. O nome vem de “bailar”, que se
transformou em “baiar”. Daí, “baião”.
“O baião estava dissolvido
na viola nordestina, na embolada, no coco. Há de se dizer que o baião é
uma espécie de lundu, que foi o ritmo-pai de toda a nossa música, a
exemplo do maxixe e do samba. O que Gonzaga fez junto a Humberto foi
urbanizar o baião, com base na construção estética da música da então
capital brasileira, o Rio de Janeiro”, explica o pesquisador.
“O
baião, antes, era encontrado na batida da viola do violeiro. O forró era
o local onde se dançava. Gonzaga propôs o encontro dos dois,
inspirando-se no samba carioca. Trouxe para o baião a zabumba das bandas
de pífano, inspirado no surdo do samba. Substituiu a sanfona de oito
baixos pelo Acordeon de 129 baixos, explorando mais recursos encontrados
no choro. E o triângulo foi um elemento que ele mesmo colocou pra
“temperar” essa mistura”, analisa Anderson Fidélis.
“Baião”
invadiu o jeito de fazer música de alguns cantores: o rock de Raul
Seixas; o tropicalismo de Gilberto Gil; o herdeiro de Gonzagão,
Dominguinhos.
“Segundo alguns depoimentos de Humberto Teixeira, o
baião tem séculos de existência, vindo das cortes europeias. E por essa
indicação segui em minhas pesquisas. E de fato achei algo que possa
levar a isso que Humberto falou, justamente através do lundu que
tínhamos aqui no Brasil. Essa base rítmica se espalhou por todo o
Brasil, até a Argentina; o tango, a vaneira, o maxixe e o baião têm um
ancestral em comum, e a pista para isso está em um desses ritmos, que é a
vaneira”, explica o pesquisador.
Tantas histórias, algumas encaixadas em outras tantas histórias, também levam em conta a difícil tarefa de urbanizar o baião.
O
ritmo era conhecido no século 19, registrado por Câmara Cascudo. Antes
de alcançar a popularidade atraída por Gonzagão, o baião era chamado de
“ritmo da canalha”.
Nos anos 50, porém, a “canalha” passou a
ocupar os salões da elite, nas famosas vozes do rádio da época como
Carmem Miranda e Jamelão.
Todos bebendo a fonte comum: o baião, ritmo do Nordeste, eternizado pelo rei e seus herdeiros.
Por Jornal Extra
Nenhum comentário