Para o Brasil e para o mundo, a hora e a vez do artesanato de Alagoas

Arte produzida pelos artesãos alagoanos rompe barreiras geográficas e encontra lugar de destaque na arquitetura brasileira 

Potencial alagoano ganha espaço cada vez mais no cenário nacional e mundial.
Potencial alagoano ganha espaço cada vez mais no cenário nacional e mundial. Fotos: André Palmeira
Intuição. Entre diversos conceitos é a forma de expressar o conhecimento de maneira direta, clara e imediata. É a sensibilidade de perceber o entorno. A intuição é a matéria bruta da arte popular. Podemos afirmar que ela é a verdadeira escola formadora de heranças culturais.

O artista que utiliza da intuição como forma de aprendizado dispensa teorias. Os livros podem ser moldados através do barro quilombola. A caneta dança suavemente assim como as agulhas nas mãos das rendeiras. O ferro que outrora faz a vez de cadeiras nas classes, aqui assume a figura do povo sertanejo. A arte popular que floresce, antes de tudo, é raiz.

Fazer arte popular é exercer um ofício por vezes incompreendido e sem o devido reconhecimento. Porém, é um valoroso exercício de resistência que ultrapassa gerações. E falando em tempo, o artesanato deixou há muitas estações de ser uma peça de pouco valor no universo das artes.

Estamos falando de dona Irinéia, Mestre Abelardo, João das Alagoas, Mestre Arlindo, Mestra Sil, André da Marinheira e Mestra Vânia Oliveira. Com eles viajaremos para a região quilombola em União dos Palmares, para a Ilha do Ferro, Capela e Maceió. A aula de hoje parece geografia, mas é sobre o artesanato alagoano.



Alagoas conta com mais de 10 mil artesãos inseridos no Sistema de Informações Cadastrais do Artesanato Brasileiro. São sete tipologias desenvolvidas em todo o estado e que se tornam verdadeiros patrimônios culturais. Arte viajante que sai dos municípios alagoanos rompendo fronteiras e chega às mãos e espaços inimagináveis.

Hoje já é possível encontrar o artesanato alagoano em grandes galerias de arte espalhadas pelo Brasil como a Pé de Boi, no Rio de Janeiro, uma das maiores referências de arte popular brasileira. Além da Brasileirinho (MG), Projeto Terra (SP) e Sambaki (SP).



Colocar o artesanato em seu devido lugar de destaque é o trabalho da arquiteta alagoana Júlia Tavares­­­­. Para ela, as peças manuais são únicas e se tornam o toque final em seus projetos de arquitetura.

“Vivemos em um estado onde a arte existe de uma forma muito explosiva e é natural que a utilizemos no nosso cotidiano. De acordo com o mote que o cliente passa, procuro fazer esse link da arte popular com o projeto”, comenta Júlia.

Essa nova visão acerca da arte popular ganha força ao chegar dentro da academia. Para o arquiteto e professor universitário dos cursos de arquitetura e urbanismo e design da Universidade Federal de Alagoas, Ricardo Leão, a arte popular é única por trazer a alma do artesão em cada obra, onde uma nunca será igual à outra.

“A arte contemporânea deve resgatar sempre a arte popular. Ela é vinculada as nossas raízes e é isso que possibilita termos uma identidade quando a utilizamos dentro da arquitetura. Como em todo lugar do mundo, a arte obedece ao clima presente em cada região e as suas referências. Procuro transmitir isso em sala de aula sempre abordando a importância dessa identidade de forma conceitual”, afirma Leão.



Projeto Sertões

Mapear a arte popular brasileira. Esse é o objetivo do Projeto Sertões, desenvolvido pelas jornalistas e fotógrafas especialistas em design, arquitetura e estilo de vida, Zizi Carderari, Manu Oristanio e Evelyn Müller.

Em 2015, elas desembarcaram em Alagoas para mostrar ao mundo o trabalho desenvolvido pelos artesãos do estado. Com apoio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Alagoas (Sedetur), a expedição percorreu a arte produzida na Ilha do Ferro, Arapiraca, Capela, Fernão Velho, Garça Torta, Piranhas, Maceió, União dos Palmares e Penedo.

O resultado do Projeto Sertões em Alagoas rendeu um rico acervo fotográfico e um mini documentário que mostra o potencial artístico do povo sertanejo, aliando designers, galeristas e arquitetos brasileiros ao mostrar as peças artesanais inseridas em ambientes contemporâneos.

Para Zizi Carderari, jornalista de São Paulo especializada em decoração e design, o artesanato alagoano é muito organizado e rico em artistas, além de ter uma forte aceitação em outras regiões do país.

“Tenho forte admiração pelo João das Alagoas, pois ele é um verdadeiro mestre. As pessoas que aprenderam o ofício com ele utilizam as técnicas ensinadas por João para desenvolver sua própria arte, o que gera uma riqueza cultural muito grande para o artesanato local. E o produto disso viaja o Brasil sendo muito bem visto na mistura com a arte contemporânea”, destaca a jornalista.

Por Blog Adalberto Gomes Notícias com Agência Alagoas

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