Garra e empreendedorismo de costureira alagoana viram matéria em revista de circulação nacional, conheça a história de vida de Maria das Graças Correia
Leitores da Revista Burda Style em todo o Brasil vão encontrar, na edição de julho, a história peculiar de Maria das Graças Correia, uma costureira do Sertão de Alagoas que faz a diferença na sua área antes mesmo de ter noção do que empreendedorismo seria. O artigo conta as origens de Maria das Graças e como ela construiu sua vida em volta das agulhas e montou um negócio em um quartinho nos fundos de casa.
Morando e trabalhando na roça, no município de Pão de Açúcar, Graça,
como é chamada, tinha 9 anos quando via sua mãe costurar. Da observação
veio a prática, escondida, elaborando um vestidinho para a irmã mais
nova. Porém, como cortou uma toalha de mesa bordada da família para
fazer a peça, acabou sendo punida. Passado o susto inicial, a técnica da
garota foi sendo desenvolvida pela mãe e pelas primas.
Ela começou a ganhar dinheiro com costura aos 12 anos, ao fazer
pequenos consertos para conhecidos. Aprendeu crochê, mas a costura era
mais rápida e tornava mais fácil conseguir o recurso extra para ajudar
em casa. Com as primas que moravam na cidade, a relação era de escambo:
Graça consertava algumas peças e ganhava outras.
E assim ela foi crescendo, sempre observando as pessoas na rua, lendo
revistas, assistindo novelas e notando as roupas que passavam na TV. Em
geral, criava seus próprios modelos, mais simples, e se esforçava para
acertar o corte em peças mais elaboradas. Quando casou, o marido
Hernande deu apoio à vocação da costureira e construiu um quartinho nos
fundos da nova casa, em Olho D’Água do Casado, avançando pelo Sertão
alagoano, para que Graça tivesse seu próprio ateliê.
“Eu sempre fui procurando formas de me aprimorar e aprender algo mais.
Quando eu ouvia falar sobre curso ou alguma capacitação, mesmo que fosse
no município vizinho, eu procurava ir. E, além disso, passava o que eu
via para colegas costureiras. Assim, quando vinha encomenda grande, de
uniforme, por exemplo, eu chamava elas para que trabalhassem comigo, e
cada uma ganhava sua parte”, conta a empreendedora Maria das Graças.
Foi assim, procurando aprender mais sobre o ofício, que, 30 anos depois
de sua primeira aventura com uma máquina de costura e a toalha bordada
da mãe, Graça atendeu a um chamado da Prefeitura de Olho D´Água do
Casado para um curso de corte e costura que teria na cidade.
O início do empreendedorismo
Foi no curso de sua cidade, em 2007, que Maria das Graças conheceu as
ações do Sebrae em Alagoas. O evento foi uma realização da Cadeia
Produtiva de Confecções de Alagoas, projeto que reúne Sebrae, Governo de
Alagoas, Federação das Indústrias do Estado de Alagoas (Fiea),
Sindicato da Indústria do Vestuário (Sindivest) e Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial (Senai), que, juntos, trabalham no fomento a
indústrias de confecções e núcleos de costureiras em 20 municípios do
estado.
“Foi aí que tudo mudou. Porque, antes, eu ficava procurando as coisas,
mas era meio perdida, solta, sem saber onde procurar direito. Depois que
eu conheci o Sebrae, tudo ficou mais organizado e melhor de trabalhar.
Bastou eu conhecer a gestora Ana Paula para ela passar a me ligar sempre
para informar e convidar para alguma capacitação nova que ia haver. Aí
eu dizia a ela que iria fazer, e ia mesmo. Já fui a dois lançamentos do
Caderno Inova Moda, em Maceió, e fiz três cursos com eles também”,
completa.
A gestora citada por Graça é Ana Paula Dantas, analista da Unidade de
Indústria (UIND) do Sebrae em Alagoas, e uma das admiradoras da
sertaneja. “A Dona Graça é uma mulher empreendedora, uma guerreira; nada
é dificuldade para ela. Houve uma associação de costureiras em Olho
D’Água que não foi para frente, e, quando fomos lá para ver como estava a
situação, ela nos mostrou o quartinho nos fundos de casa onde levava
seu próprio negócio e convidava as antigas colegas de associação para
realizar algumas encomendas”, relembra a analista.
A partir de então, o Sebrae passou a convidar Maria das Graças para
ações realizadas em Piranhas, cidade focal no Sertão e mais próxima da
costureira, onde ela teve contato com temas diversos relacionados a
empreendedorismo. De acordo com Graça, essa foi a oportunidade de falar
com especialistas sobre outro tema que ela já vinha pesquisando: a
formalização.
“Eu era cadastrada em um sindicato rural daqui, porque também lidava
com a terra, mas quis levar a costura mais a sério, precisando ter nota
fiscal e condições para negociar melhor a compra de material. Pesquisei
sobre o assunto, perguntei a uma assistente social da Prefeitura e vi
também que, se eu me formalizasse, ia ser melhor quando quisesse me
aposentar, futuramente”, explica.
Hoje, Graça é uma orgulhosa Microempreendedora Individual (MEI), que
trabalha com peças de alta costura e alfaiataria, tudo feito sob medida.
“Estou satisfeita demais. Tenho garantias para o futuro, tudo o que
busco é mais fácil de encontrar, até mesmo os eventos do Sebrae. Se
antes eu buscava as coisas para participar, agora elas vêm até mim, não
tem nem comparação”.
Proprietária de máquinas de costura doadas pelo Governo do Estado,
Maria das Graças está segurando um pouco a ampliação do espaço físico do
ateliê, frente ao momento difícil da economia e ao novo emprego do
marido, que o levou para Pernambuco. Enquanto isso, vai seguir conselhos
ouvidos em consultorias do Sebrae e trabalhar na fidelização e melhor
atendimento de sua clientela.
“As pessoas para quem costuro - principalmente as roupas de festa -
sempre voltam. Então, vou fazer uma lista e trabalhar só com elas para
poder atender direitinho e dar conta das encomendas mais fácil”, analisa
Graça.
Mas não se engane: o planejamento também servirá de base para ajudar na
decisão sobre novos voos. Maria das Graças recebeu um convite para
trabalhar com uma empresária de confecções que vai lançar uma nova marca
em Maceió e está avaliando todas as condições para tomar a decisão.
Aquela aventura do passado com a toalha de mesa bordada lhe rende bons
frutos até os dias atuais.
Por Agência Sebrae
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