Idoso mantém 'vila para 130 cachorros' com direito a energia elétrica em Mogi das Cruzes - SP
Atualmente 130 cachorros e 13 gatos vivem no vilarejo.Cachorros consomem 50 quilos de ração e 500 litros de água por dia.
Por G1
Antonio
de Barros não pode entrar em um canil, em Mogi das Cruzes, que todos os
cachorros querem brincar (Foto: Jamile Santana/ G1)
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Quando seu Antônio de Barros chega em casa, é uma latição só. Os 130
cachorros que moram no "vilarejo" criado por ele fazem um coral para lhe
dar boas vindas. E não é pra menos. Aos 60 anos, ele gasta sua
aposentadoria de R$ 1.100,00 e conta com doações para alimentar
cachorros e gatos que são abandonados nas ruas de Mogi das Cruzes. Ele
criou uma pequena "vila". As casas contam com energia elétrica e um cão
cego ganhou um espaço "adaptado".
Por dia são 50 quilos de ração, 500 litros de água e 3 litros de
desinfetante para limpar os canis. A disposição do aposentado é tanta
que contagiou a família inteira. Hoje, a esposa, a filha, o genro e a
neta o ajudam na difícil tarefa de cuidar dos animais que estão para
doação. Alguns crescem e morrem à espera de uma família nova.
Gatos tem espaço especial em "vilarejo" para cães mantido por idoso em Mogi das Cruzes (Foto: Jamile Santana/G1) |
Antônio mantém o espaço há 16 anos, mas há cinco é que conseguiu criar o
"vilarejo", depois de ter conseguido emprestado um espaço de 1.250 m²
no Parque das Varinhas.
No fundo, construiu uma casa simples para a família, que não passa dos
120m². O espaço restante é dedicado aos animais. Com o dinheiro de uma
indenização, construiu um muro para cercar todo o terreno, e seis canis,
com direito a telhado, portões, além da energia elétrica.
Ele também furou um poço, porque previa que precisaria de muita água e o
sítio não é atendido por rede pública de abastecimento. Depois, com
ajuda de doações de materiais de construção, levantou mais quatro canis
grandes. São neles que vivem os cachorros separados por grupos de
afinidade. Há um espaço só para gatos. O "quarto" é envolto em uma tela,
para que os felinos não fujam.
A história começou com uma cadela que havia sido atropelada. "Na época,
eu morava no centro de Jundiapeba. Cheguei em casa e lá estava ela na
rua, com o nariz caído. Levei ela para casa e consegui que uma
veterinária parcelasse a cirurgia para mim. Quando vi ela recuperada e
alegre, me senti feliz. Desde aquela vez, não conseguia mais ver um
cachorro doente ou passando fome na rua e fingir que nada estava
acontecendo. Comecei a ajudar como podia", contou.
Um dos canis mantidos por idoso em Mogi das Cruzes (Foto: Jamile Santana/G1) |
O vilarejo chegou a ter 173 cachorros. Com uma ação em parceria com a equipe de Zoonose da cidade, a maioria foi castrada.
Hoje são 54 cachorros castrados. Eles vivem separados nos dez canis: só
fêmeas, só os mais velhos que já se conhecem faz tempo, só os mais
novos.
E no meio das dezenas de animais , alguns se destacam. É o caso da
pastora alemã que foi abandonada na porta do sítio de Antônio, porque
está velha. "Amarraram na porta de casa. Ela está bem velha, apesar de
ter saúde boa, caminha bem devagar e já cansa, fica mais deitada. É
extremamente dócil", contou.
Os cachorros com problemas de saúde mais graves ficam separados dos
demais em suas "casas próprias". É o caso de um poodle cego. "Na casa
dele, fiz uma adaptação. Coloquei um corrimão na parede e amarrei na
coleira dele. É a forma que ele tem para se direcionar dentro da
casinha. ele sabe que em uma ponta fica a caminha, e na outra a comida",
disse Antônio.
Antônio abraça cachorro que sobreviveu a parvovirose e agora vive em "vilarejo" em Mogi das Cruzes (Foto: Jamile Santana/ G1) |
Na casa vizinha, um cachorro que sobreviveu à parvovirose, mas tem
dificuldades de manter as patas traseiras em pé. "Ele chegou aqui bem
doente, mas sobreviveu à doença e cresceu. É muito amoroso, mal pode me
ver que já fica eufórico", disse.
Ao todo são sete "casas próprias", cada uma com uma história comovente.
Depois das 18h, quando começa a escurecer, seu Antônio vai passando,
casinha por casinha, para acender as luzes. "No inverno, ajuda a
esquentá-los. Eles acostumaram já. Mais tarde eu vou apagando todas as
luzes e eles sabem que é hora de dormir".
A rotina começa novamente às 6h: comida e higienização dos canis. "Eu
fico torcendo para vir gente conhecer o local e levar algum cachorro
para casa. Muitos deles têm histórias tristes, mas aqui nós lutamos pela
vida deles. Eles são felizes, eu trato bem. Mas não há nada como ter
uma família de verdade, não é? Acho que ter atenção exclusiva é o sonho
de muitos deles aqui", brinca o aposentado.
Todos os cachorros estão disponíveis para adoção. O idoso também conta
com voluntários para ajudar a limpar os canis. "Eu não enxergo mais
100%, vou fazer uma cirurgia de catarata. Por isso, aceito ajuda de
voluntários que quiserem me ajudar a limpar os canis. Minha casa está
sempre aberta para quem quiser conhecer ou visitar", disse o aposentado.
"Quando recebo doações de ração, produtos de limpeza e remédios, consigo usar esse dinheiro em outras coisas da casa. Mas para ser bem sincero, faz tempo que não compro nada para família. Não dá para deixar faltar alimento para os cachorros, eles dependem de mim. Enquanto, eu tiver força, vou me dedicar à eles", contou.
"Quando recebo doações de ração, produtos de limpeza e remédios, consigo usar esse dinheiro em outras coisas da casa. Mas para ser bem sincero, faz tempo que não compro nada para família. Não dá para deixar faltar alimento para os cachorros, eles dependem de mim. Enquanto, eu tiver força, vou me dedicar à eles", contou.
Alguns cachorros possuem "casas separadas" na "vila" mantida por idoso em Mogi das Cruzes (Foto: Jamile Santana/G1) |
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