Duas plantas comuns na Caatinga – a
cutia e a umburana – estão sendo estudadas por um grupo de
pesquisadores do Instituto Nacional do Semiárido por terem compostos que
funcionam como biopesticidas no combate ao Aedes aegypti,
mosquito transmissor da dengue, do vírus Zika e da chikungunya. Os
testes mostraram que os compostos dessas plantas são capazes de
exterminar até 50% das larvas dos mosquitos, valor de referência para
que sejam classificados como eficazes.
Planta da Caatinga
O
coordenador da pesquisa, Alexandre Gomes, contou que desde 2011 um
grupo de pesquisadores do Núcleo de Bioprospecção e Conservação da
Caatinga vem estudando plantas desse bioma em busca de substâncias com
propriedades larvicidas contra o mosquito. “Já sabíamos que os compostos
aromáticos, ou terpenoides, reconhecidos a partir do cheiro forte de
certas plantas, são inseticidas. Se eu pegar a folha da pitanga e
amassar, por exemplo, vou sentir o cheiro da pitanga. O mesmo ocorre com
o cravo da índia. Essas plantas têm uma quantidade boa desses compostos
chamados terpenóides”, explicou. Os óleos essenciais da cutia e da
umburana também são obtidos por meio do sumo da folha.
Os
pesquisadores testaram os óleos essenciais de diversas plantas, seguindo
o modelo definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
“A gente pega um recipiente, no caso, um copo descartável, faz uma
solução do óleo essencial com água e, em cada copinho, coloca 50 ml de
líquido e 10 larvas do mosquito. Após 24h, averiguamos quantas larvas
morreram e se o resultado foi satisfatório.”
Alexandre Gomes
explicou que a grande vantagem de usar pesticidas vegetais, orgânicos, é
que essas substâncias são mais seletivas e agem em pragas específicas.
Os resultados dos testes mostraram que os óleos matam mais de 50% das
larvas, número de referência na biologia para saber se um composto
funciona. “Um produto é considerado eficaz quando mata 50%”, ressaltou.
Testes
Agora, para que esses óleos essenciais possam se tornar produtos comerciais, os pesquisadores
estão investigando se só fazem mal aos mosquitos. “Apesar de ser um
produto natural, precisamos saber até que dose podemos utilizar, até que
ponto não fazem mal. Estamos em fase de teste de toxicidade para saber
se não causam danos a células humanas e a outros organismos”, explicou.
Segundo ele, os testes de toxicidade vão permitir que saibam a dose
exata. “Ainda no primeiro semestre teremos os resultados”, acrescentou.
A
expectativa do pesquisador é que no segundo semestre a equipe comece a
buscar parcerias com a iniciativa privada para que esses óleos possam
chegar ao mercado. “Infelizmente, no Brasil, o pesquisador não é
preparado para ser empreendedor. Esta é a grande limitação dos
pesquisadores: conseguir transformar a pesquisa em produtos. A gente só
vai conseguir fazer isso com a iniciativa privada.”
As plantas
usadas foram coletadas no Parque Nacional do Catimbau, em Pernambuco, e
também podem ser encontradas em Sergipe e no Espírito Santo.
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