Alagoas: Psicóloga do HGE orienta sobre perigos do bullying
Pais e professores devem ficar atentos no comportamento de crianças e adolescente nos ambientes doméstico e escolar
Quando vítimas começarem a apresentar comportamentos depressivos é preciso buscar o suporte da terapia Carla Cleto |
Quem
nunca foi alvo de piadinhas desagradáveis e risadas abafadas nos tempos
de colégio? Caracterizado por uma agressão intencional e repetida, que
ocorre sem motivação evidente, o bullying causa intensos danos
psicológicos à vítima, afetando diretamente seu convívio social e
familiar. Um problema social que deve ser conhecido e combatido.
O termo bullying tem origem na palavra inglesa bully,
que significa valentão, brigão. Mesmo sem tradução na língua
portuguesa, é entendido como ameaça, intimidação, tirania, opressão,
maltrato e humilhação. Segundo Rosania Lisboa, psicóloga do Hospital
Geral do Estado (HGE), o bullying é um problema mundial, ocorre em
praticamente qualquer contexto que haja interação social, como escola,
universidade, família, além do local de trabalho e entre vizinhos.
Porém, sua maior incidência ainda é a escola, principalmente entre os
adolescentes.
Para
a psicóloga, existe um equilíbrio de gênero sobre o fenômeno do
bullying. No entanto, por serem mais agressivos e utilizarem da força
física, as atitudes dos meninos são mais aparentes, enquanto as posturas
das meninas passam despercebidas tanto na escola quanto no ambiente
doméstico, uma vez que elas costumam praticar o bullying mais na base de
intrigas, humilhação e de isolamento das colegas.
De
acordo com ela, preocupa, o critério adotado pelos agressores para a
escolha da vítima. “Muitas das vezes, eles trabalham em conjunto, para
atingir quem está mais desfavorável, seja por situação socioeconômica,
de idade ou de porte físico. E outro obedece por medo”, disse a
especialista. “Além disso, de forma geral, as vítimas apresentam algo
que difere aos olhos do grupo, como timidez, cor da pele, introspecção
ou orientação sexual.”
Curiosamente,
as vítimas de bullying normalmente não contam aos pais e professores o
que está acontecendo, porque se tornam reféns do jogo de poder
instituído pelos agressores. “Na verdade, as vítimas não expõem os
motivos que estão causando tanto sofrimento, por se acharem covardes,
insuficientes, limitadas. Além de ficarem inseguras quanto à reação dos
pais ao descobrirem”, explicou ela.
Os problemas que uma vítima de bullying pode enfrentar na escola e ao longo da vida podem são variados
e dependem de cada indivíduo, da sua estrutura, de vivências, de
predisposição genética, da forma e da intensidade das agressões. A psicóloga do HGE orienta que quando as vítimas começarem a apresentar comportamentos depressivos, é preciso buscar o suporte da terapia.
Por
isso, os pais e os professores devem ficar atentos quanto aos
comportamentos da criança ou adolescente nos ambientes doméstico e
escolar. As vítimas de bullying tendem a desenvolver distúrbios do sono,
problemas de estômago, irritabilidade, depressão, anorexia e bulimia,
fobia escolar e social, ansiedade generalizada, entre outros. O bullying
também pode agravar problemas preexistentes, devido ao tempo prolongado
de estresse a que a vítima foi submetida. Em casos mais graves, podem
observar quadros de esquizofrenia, homicídio e suicídio.
“O
que realmente preocupa é quando a criança ou o adolescente apresenta
comportamentos destrutivos; eles começam a pensar em suicídio e, por
isso, pensam ‘por que comigo? ’, ‘será que eu não sou bom o suficiente?
’, ‘em que momento eu errei?’”, alertou Rosania Lisboa.
Dessa
forma, as informações sobre a conduta das vítimas devem incluir os
diversos espaços em que elas frequentam. Na escola, encontram-se
isoladas do grupo, ou perto de alguns adultos que possam protegê-las; na
sala de aula apresentam postura retraída; faltam às aulas, mostrando-se
comumente tristes, deprimidas ou aflitas; nos jogos ou atividades em
grupo sempre são as últimas a serem escolhidas; e, em casos mais
dramáticos, apresentam hematomas, arranhões, cortes, roupas danificadas
ou rasgadas.
Não
bastasse isso, em casa, frequentemente se queixam de dores de cabeça e
de estômago, enjoo, tonturas, vômitos, perda de apetite e insônia. Todos
esses sintomas tendem a ser mais intensos no período que antecede o
horário de as vítimas entrarem na escola. Mudanças frequentes e intensas
no estilo de estado de humor, com explosões repentinas de irritação ou
raiva, são habituais.
Já
o comportamento de um praticante de bullying é o pior possível. “Eles
colocam apelidos pejorativos, fazem gozações, difamam, constrangem,
ameaçam, menosprezam e constrangem outros alunos”, listou a psicóloga.
Segundo ela, além disso, muitos chegam a furtar ou roubar dinheiro,
lanches e pertences de outros estudantes, divertindo-se à custa do
sofrimento alheio.
De
acordo com a psicóloga do HGE, no ambiente doméstico, os agressores
mantêm atitudes desafiadoras e agressivas em relação aos familiares. São
arrogantes no agir, no falar e no vestir, demonstrando superioridade.
Manipulam pessoas para livrar-se das confusões em que se envolvem.
Costumam voltar da escola com objetos ou dinheiro que não possuíam.
Alguns mentem e trapaceiam, de forma convincente, e negam as reclamações
da escola, dos irmãos ou dos empregados domésticos.
ESCOLAS PARTICULARES X ESCOLAS PÚBLICAS
Um
estudo apresentado pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a
Infância), realizado em parceria com a FLACSO (Faculdade Latino -
Americana de Ciências Sociais), em 2011, na Argentina, revelou que em
escolas frequentadas por alunos de classe alta, a prática do bullying é
mais recorrente do que em escolas públicas.
Para
Rosania Lisboa, o ambiente escolar é corresponsável nos casos de
bullying, uma vez que é lá onde comportamentos agressivos e
transgressores se evidenciam ou se agravam na maioria das vezes. “A
escola precisa ficar alerta, pois quando a criança está mais retraída,
se recusando a não participar das atividades, ou quando o rendimento
escolar diminui, alguma coisa está errada”.
A
psicóloga sugere, ainda, atitudes para um ambiente saudável na escola,
como conversar com os alunos e escutá-los sobre suas reclamações ou
sugestões; criar tarefas e brincadeiras que estejam em coerência com o
regimento escolar; instigar lideranças positivas entre os alunos,
prevenindo futuros casos; e, por fim, estimular os estudantes a
informarem os casos e interferir diretamente nos grupos, o quanto antes,
para quebrar a dinâmica do bullying.
Ciberbullying: a violência virtual
Uma
das formas mais agressivas de bullying, que ganha cada vez mais espaços
sem fronteiras, é o ciberbullying ou bullying virtual. Os ataques
ocorrem por meio de ferramentas tecnológicas como celulares, filmadoras,
máquinas fotográficas, internet e seus recursos (e-mails, sites de
relacionamentos, vídeos). Além da propagação, das difamações serem
praticamente instantâneas, o efeito multiplicador do sofrimento das
vítimas é imensurável.
Por Blog Adalberto Gomes Notícias com Agência Alagoas
Nenhum comentário