Revitalização do rio São Francisco nunca saiu do papel, afirma comitê
Morador de Cabrobó(PE) lava cavalo no São Francisco; cidade recebe menor investimento desde 2007 |
Membros do Comitê da Bacia do São Francisco disseram nesta
quarta-feira (1º) que a revitalização do rio, iniciada em 2007, nunca
realmente saiu do papel e que verbas federais destinadas ao programa
foram usadas para outros fins, como construção de estradas.
"São pouquíssimos recursos investidos nessa área. Nós sempre nos
perguntamos: onde está o dinheiro que foi gasto no programa de
revitalização?", questionou o secretário do comitê, Maciel Oliveira, em
lançamento de campanha de defesa da bacia, em Belo Horizonte.
O órgão é responsável por estabelecer regras de uso da água e
arbitrar conflitos relacionados a recursos hídricos na região. É formado
por entidades civis, usuários da bacia e representantes de municípios,
Estados e da própria União.
Segundo Oliveira, apesar de o
governo federal ter instituído um conselho gestor de revitalização do
São Francisco, a entidade "nunca existiu de fato".
"Eram algumas pessoas, principalmente do Ministério da Integração
e Codevasf (Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco) que
decidiam para onde esse dinheiro ia. Até para construção de estradas o
dinheiro era carimbado como se fosse para revitalização", criticou.
Procurada, a Codevasf diz que a adequação de estradas ecológicas
faz parte do programa de revitalização, porque evita que haja erosão nos
rios.
Como a Folha de S.Paulo revelou, no ano passado os investimentos
federais na revitalização do rio caíram pela metade em relação a 2014. A
instalação de rede de saneamento básico e obras para viabilizar a
navegação no rio ficaram paradas ou atrasadas.
No evento em Belo Horizonte, o presidente do comitê, Anivaldo
Miranda, reclamou que "os centavos" que iam para a revitalização "ainda
estão no cofre". Para aumentar os recursos destinados à bacia, Miranda
propõe a cobrança de uso da água subterrânea.
O colegiado espera se reunir com o novo ministro do Meio
Ambiente, Sarney Filho, para discutir o problema e eleger prioridades
para as verbas destinadas à revitalização.
Para o comitê, os dois principais problemas da bacia atualmente
são a falta de tratamento de esgoto em municípios que ficam à beira do
São Francisco ou de seus afluentes e, também, a estiagem.
Por causa da falta de chuvas, a expectativa é de que até o fim de
2016 o nível do reservatório de Sobradinho, na Bahia, esteja com apenas
10% de sua capacidade. Atualmente ele está em 30%.
OUTRO LADO
A Codevasf diz que desde 2007 o governo federal já gastou
aproximadamente R$ 2 bilhões na revitalização da bacia do São Francisco.
Os recursos são liberados por meio de licitações, convênios ou
parcerias com empresas estatais.
A companhia informa que já fez obras como "revegetação,
cercamento e recuperação de nascentes, matas ciliares, topos de morro e
de reserva legal", além de readequação de estradas ecológicas e
contenção e estabilização de encostas. Também afirma que concluiu 139
sistemas de esgoto sanitário.
"Trata-se, portanto, de um conjunto de intervenções que atua
sobre componentes importantes do ciclo hidrológico, com vistas a
reduzir/mitigar os impactos do uso inadequado e da alteração da
cobertura do solo pelo homem, sobre a disponibilidade dos recursos
hídricos", diz nota do órgão.
Por Folha de São Paulo
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