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Guarita da Fábrica da Pedra/ Imagem Adalberto Gomes |
A Fábrica da Pedra S/A - Fiação e Tecelagem inaugurada em 05 de junho de
1914 pelo empreendedor e desbravador Delmiro Augusto da Cruz Gouveia,
completa 103 anos de existência nesta segunda-feira (05) de junho com as
portas fechadas. Considerada a maior indústria do sertão alagoano, a
Fábrica
teve suas atividades encerradas no dia 31 de janeiro de 2017, devido uma
crise financeira que iniciou-se em março de 2016, pelo não
pagamento de um débito na energia elétrica com a Eletrobras no valor de
R$ 1,265.000,00, com isso 583 funcionários foram
demitidos.
História
Fundada por Delmiro Augusto da Cruz Gouveia, nascia no Povoado da Pedra (cidade de Delmiro
Gouveia), um empreendimento moderno bastante conhecido
nos mercados interno e externo pela excelência na fabricação de produtos
têxteis, que tinha a marca Estrela de carretéis de linha como selo da
Companhia Agro Fabril Mercantil (razão social da
empresa) na época da sua fundação.
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Delmiro Augusto da Cruz Gouveia, fundador da Fábrica da Pedra/ imagem arquivo Adalberto Gomes |
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Imagem interna da produção da Fábrica da Pedra/ imagem arquivo Adalberto Gomes |
Logo, nos primeiros anos, a Companhia Agro Fabril Mercantil, mostrou vigor industrial. Começou a operar os teares com
mais de 800 operários entre homens e mulheres produzindo mais de dois
mil carretéis de linhas para costura, rendas e bordados. Seus produtos
de qualidade rapidamente ganharam espaço no mercado externo passando a
exportar para Argentina, Chile e Peru. Os carretéis eram provenientes da
Finlândia. E, o algodão, do Egito.
Contudo, após três anos em atividade, a Companhia Agro Fabril Mercantil sofreu o maior
revés. A prematura morte do desbravador do sertão alagoano, Delmiro
Gouveia, assassinado no dia 10 de outubro de 1917.
A morte do empresário cearense Delmiro Gouveia, radicado no sertão
alagoano, abalou a sociedade da época. O comando da Fábrica foi assumido
pelo sócio italiano Lionelo Iona e Adolpho Santos até 1924. Pouco tempo
depois, os destinos da indústria são passados para o filho de Delmiro
Gouveia, Noé. Nesse período, desaparece a linha Estrela e a Fábrica foca
a produção propriamente na indústria têxtil.
Em 1926, a Companhia Agro Fabril Mercantil é vendida ao grupo
empresarial pernambucano
Irmãos Menezes e Cia, administrado pela família Lacerda de Menezes. Este
grupo manteve-se a frente do empreendimento até 1986. Neste ano, a
Fábrica foi vendida ao grupo Cataguases Leopoldina do empresário
mineiro Ivan Müller Botelho, passando a chamar-se Multi Fabril Nordeste
S/A.
Em 1992, a Multi Fabril Nordeste S/A, foi vendida ao grupo empresarial alagoano Carlos Lyra, com
quem permanece até hoje com a denominação Fábrica da Pedra S/A - Fiação e
Tecelagem. O Grupo Carlos Lyra apostou e investiu na aquisição de modernos
equipamentos de última geração para a fiação “open-end” e os teares de
pinça e a jato de ar, para a tecelagem.
Mesmo com todos os investimentos visando sua modernização, a Fábrica,
sofreu com os efeitos perversos da crise econômica que teve início em
2015 no Brasil, e que culminou no desemprego e
demissões de funcionários.
Crise
A crise na Fábrica da Pedra começou em março de 2016, devido a um débito
de energia com a Eletrobras, valor esse que segundo a diretoria da
empresa seria de R$ 1,265.000,00. O não pagamento deste débito ocasionou
o desligamento da energia e suas atividades foram paralisadas
temporariamente. Para tentar pagar o débito, a direção da Fábrica
solicitou junto a Eletrobras um acordo parcelando o valor em 36 vezes,
mas a Eletrobras não
aceitou e com isso agravou ainda mais a situação da empresa.
A Fábrica possuía um quadro com cerca de 583 funcionários, muitos
tiveram férias coletivas devido a paralisação. Em dezembro de 2016, a
direção da empresa resolveu demitir cerca de 150 funcionários, agravando
ainda mais a crise, já que não estava mantendo condições financeiras
para manter os funcionários na empresa.
Devido a todas essas questões, funcionários, ex-funcionários,
comerciantes, estudantes e a sociedade delmirense realizaram várias
manifestações em protesto contra o não fechamento da Fábrica da Pedra.
As manifestações foram realizadas em frente à Fábrica da Pedra, na sede
da Eletrobras e pelas ruas de Delmiro Gouveia.
Fechamento da Fábrica
Em 23 de janeiro de 2017, funcionários, ex-funcionários da Fábrica da
Pedra, estudantes e a população delmirese estiveram reunidos em frente à
guarita da Fábrica da Pedra, realizando um ato de manifestação contra o
fechamento da Fábrica da Pedra.
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Imagem arquivo Adalberto Gomes |
Os funcionários utilizaram cartazes cobrando das autoridades uma solução
para que a Fábrica possa funcionar normalmente, emocionados ouviram o
hino de Delmiro Gouveia e do Brasil. Ainda em frente da Fábrica, fizeram
um círculo e rezaram de mãos dadas, logo depois percorreram a avenida
Castelo Branco, passando pela Câmara de Vereadores, pela Prefeitura
Municipal de Delmiro Gouveia até à frente da Fábrica da Pedra, durante a
caminhada foram pedidos para que os comerciantes baixassem as portas
dos comércios em solidariedade a manifestação.
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Imagem arquivo Adalberto Gomes |
No dia 31 de janeiro de 2017, o Sindicato dos Trabalhadores nas
Indústrias de Fiação e Tecelagem (STIFT), após reunião com diretores do
Grupo Carlos Lira, informaram a demissão dos 450 funcionários
restantes, com essas demissões a Fábrica da Pedra
encerrou suas atividades.
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