Todos os caminhos da pesquisa levam a Alagoas

No dia nacional da ciência e do pesquisador, a Fapeal destaca o perfil de cientistas alagoanos em fases diversas das suas carreiras 

Trabalho realizado rotineiramente na Fundação não é justificado apenas para promover a ciência
Trabalho realizado rotineiramente na Fundação não é justificado apenas para promover a ciência Ascom Fapeal
Em meio ao anúncio de que Alagoas sediará o maior evento científico da América Latina em 2018, o estado desponta como rota nacional para a pesquisa científica. A conquista do primeiro encontro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) a ser realizado em Maceió, demonstra um resultado construído nos últimos anos.

Para incluir pesquisadores e investimentos no mapa competitivo, órgãos de fomento como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal) uniram-se às instituições de ensino, numa parceria de sensibilização dos agentes estratégicos. Por intermédio do Governo do Estado, hoje Alagoas compreende a pesquisa como ferramenta num processo de desenvolvimento maior, o que ocasionou aumento de investimentos feitos na área, enquanto outros estados e órgãos federais têm seus recursos para CT&I reduzidos.

Refletindo sobre este 8 julho, em que comemora-se e homenageia-se o dia do pesquisador científico e o dia nacional da ciência, engana-se quem pensa que a atuação da Fapeal vem sendo produzida apenas para o público local. O incentivo alagoano à CT&I tem repercutido em veículos da mídia inter-regional, que já atentam para a transição.  

Para confirmar esta evolução, basta olhar para o quadro de títulos de pós-graduação stricto sensu concedidos em Alagoas.

Em 1996, o estado concedeu o título a 25 novos mestres, segundo dados do Centro de Gestão de Estudos Estratégicos (CGEE). Após um empenho sistematizado em ofertar propostas enérgicas, o número evoluiu para 298 títulos de mestrado concedidos em 2014. Isto representa um crescimento de 1.092% no período considerado. A média brasileira no mesmo espaço de tempo (1996-2014) é de 378,97%.

Quando parte-se para o índice de doutorado, a CGEE confirma que no ano de 2014 Alagoas formou 35 novos doutores, e vale ressaltar que todo campo da pós-graduação alagoana recebe auxílios para a continuação de suas atividades acadêmicas, enquanto docentes e pesquisadores.

Em 2014, eram 2.461 mestres empregados no estado. Ou seja, a cada mil indivíduos com emprego formal em Alagoas, 4,8 são mestres. A média brasileira é de 5,9. Em 2014, o número foi de 1.076 doutores empregados em Alagoas, significando 2,09 doutores a cada mil empregados. A média brasileira é de 2,56.

Os números também mostram espaço para crescimento. Em 2014, o saldo entre empregados e titulados implica que Alagoas mesmo com o aumento da formação, precisou importar 878 mestres e 848 doutores para atuarem no estado.

A média de remuneração dos mestres em Alagoas aumentou 36,4%  entre 2009 (R$7.113 ) e 2014 (R$9.701). A média brasileira para o mesmo período é de 9,4% de aumento. Para os doutores empregados em Alagoas, o aumento entre foi de foi de 42,2% entre 2009 e 2014, enquanto a média entre todos os estados do país é de 18,1%.

O trabalho realizado rotineiramente na Fundação não é justificado apenas para promover a ciência. Existe esta pretensão, mas antes de tudo, deseja-se conceber a criação de um universo de possibilidades, que é nutrido com a energia fornecida desde as iniciações científicas, até os altos padrões de elaboração em pós-doutorados. Com 25 anos de muita história na bagagem e tocados por uma data significativa, a Fapeal faz uma pausa para conhecer e apresentar quem constrói este dia. 

Estreando no cenário

No pontapé da carreira científica, Júlia Onório, produz estudos que analisam a Terapia Ocupacional no que se refere à suas bases teóricas. A aluna da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal), recebe o apoio da Fapeal através do Programa de Iniciação Científica (Probic), articulado em outras tantas universidades e centros acadêmicos de Alagoas. Com o projeto, ela busca alinhar a especificidade da atuação técnica com o foco no cunho qualitativo e metodológico, baseada em referências verificadas na prática. Neste contexto, a bolsista cita que seu procedimento de pesquisa envolve a coleta de informações próximas à realidade enfrentada pelos pacientes, e para isso, ela utiliza as perspectivas de existência vivenciadas por eles.



“Considerando que, ao pesquisar a área de conhecimentos da saúde, os estudos regionais, não obtenho tantos resultados. Contudo, acredito que as particularidades do nosso estado nos trazem várias ideias sobre o que produzir, e material para escrever. Portanto, temos muito o que divulgar, a gama de possibilidades é ampla, tendo em vista, a escassez de pesquisas, em que tem-se predominado os “achismos” do senso comum sobre o campo.”

Quanto a realidade dos programas de bolsas, a estudante já nota avanços graças aos atuais investimentos de desenvolvimento das universidades e agências de fomento, que reverteram em aumento substancial de inscritos para as bolsas.

Júlia pretende seguir realizando estudos acadêmicos, e está empenhada em estender linhas que valorizem a atuação da sua futura categoria profissional em Alagoas.

Seguindo os passos da pesquisa

Com formação em enfermagem pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Lorena Sampaio sempre se interessou por temáticas de patologias que se manifestavam de forma repentina, ou não aparentes no organismo. Após realizar residência em oncologia pelo Instituto Materno Infantil de Pernambuco (Imip), a acadêmica se viu atraída por progredir com a sua formação técnica, mas direcionando o olhar as problemáticas da população. Atualmente, cursa mestrado em Sociedade, Tecnologias e Políticas Públicas, ofertado pelo Centro Universitário Tiradentes (UNIT).

A mestranda teve acesso à bolsa concedida pela Fapeal, e pôde se identificar com a possibilidade de aprofundar estudos qualificados acerca do Zika Vírus, buscando verificar fatores que tornem as pessoas mais suscetíveis ao adoecimento. “O estudo consiste em distribuir espacialmente os casos de Zika vírus em adultos em fase reprodutiva e de microcefalia em recém-nascidos na região metropolitana de Maceió, desde 2015. A finalidade é investigar se há uma associação direta entre a distribuição dos casos e a microcefalia, com o nível de desenvolvimento humano nas áreas impactadas”, alega Lorena.

Enquanto caminha pela fase produtiva, a estudante pontua que o espaço local demonstra uma cobrança maior por se pesquisar algo factível. Por esta razão, exige-se a produção de um fruto sólido para os moradores, mesmo que, a nível de informação: “O mestrado abriu portas mais maduras, e me inseriu no mundo acadêmico como pesquisadora e contribuinte, ao longo destes novos estudos com tal potencial”, frisa a bolsista. 

A dianteira do processo

Quando partimos para a construção de um acervo científico em larga proporção, torna-se indispensável mencionar à contribuição da experiência em pesquisas referência, estruturadas nos laboratórios locais. Neste patamar, Eduardo Calil, doutor em linguística pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é um parâmetro com mais de 20 anos de estudo em ciências da linguagem. Até o momento o pesquisador realizou três pós-doutorados na grande área, dois deles na França na Université de Paris X e no Centre National de la Recherche Scientifique, e outro nos Estados Unidos em  Harvard Graduate School of Education.



O seu objeto de estudo é a escrita infantil e o texto escrito na sala de aula. Em razão deste tema ser de interesse de diferentes áreas de investigação, sua atuação está interconectada com a educação, a linguística e a psicologia do desenvolvimento infantil. O estudioso cita que, muitos dos estudos propostos têm se voltado para um aspecto bastante específico da escrita infantil, como o que é ser autor quando se está escrevendo um texto nos primeiros anos do ensino fundamental.

Apesar do conteúdo acabado ser importante para compreender o desenvolvimento e as características da escrita infantil, a análise do produto não traz muitas evidências sobre o processo. Já seu método, envolve de um lado, a escritura a dois escreventes recém-alfabetizados e, de outro, preserva as condições de produção textual em sala de aula e respeita a interação cotidiana. O sistema desenvolvido pelo professor coleta os registros e obtém o filme-sincronizado do processo de escritura, através do qual o pesquisador pode ter acesso à complexidade desta situação.

O Laboratório do Manuscrito Escolar (Lame), atualmente sediado no Centro de Pesquisa em Educação e Linguagem (Cepel), na Ufal, tem se dedicado a analisar este rico e complexo material.

Os respectivos resultados têm destacado aspectos diversos da didática da escrita, da psicolinguística e da genética textual. E embora esta parte da investigação em tempo e espaço real seja nova, deve-se considerar que por meio dos trabalhos coordenados pelo profissional, hoje a situação é bem diferente da inicial.

Calil desenvolve um projeto inserido no Programa de Apoio aos Núcleos de Excelência (Pronex), apoiado pela Fapeal, que atualmente em Alagoas compreendem em 5 núcleos. Os grupos promovem pesquisas consolidadas e, de qualidade científica comprovada pela produção e titulação de seus componentes. Este edital apoia por 24 meses os centros que viabilizam as atividades científicas em parceria com universidades internacionais, e devem receber uma recomendação afirmativa de avaliadores técnicos especializados.

“Através dos apoios obtidos das agências de fomento à pesquisa, como Fapeal, Capes e CNPq, nossas condições de trabalho são muito mais favoráveis. Temos formado em vários níveis do ensino superior muitos estudantes e esperamos poder continuar com os estudos, agora comparando propostas de produção textual realizadas por alunos brasileiros, franceses e portugueses”, argumenta o pesquisador.

O especialista cita que, ainda há muito o que se entender sobre as semelhanças e diferenças entre estes estudantes. O ensejo é descobrir de que forma essas relações podem ajudar, a propor melhores práticas docentes que contribuam significativamente para a formação dos alunos escreventes.

Estímulos para articular o interior

Já o professor José Crisólogo Sales, explora produções científicas que beneficiem a otimização rural e a nutrição animal.  Docente e pesquisador da Universidade Estadual de Alagoas, no campus de Santana do Ipanema, ele tem estruturado análises relativas a plantas nativas, com potencial forrageiro e fitoterápicos, de uso no controle de parasitos em ovinos e caprinos.




Junto a uma ampla experiência acadêmica na mesorregião de Alagoas, Crisólogo solicitou recentemente o auxílio da Fundação para a realização de um evento científico, por intermédio do Edital Universal do Programa Estadual de Auxílio à Pesquisa (APQ), (chamada pública aberta) e cita que o cenário conquistou aprimoramentos. Segundo ele, hoje os formadores tem acesso a mais chamadas disponíveis, com valores superiores e ingressos facilitados e práticos, quando se fala em informações e agilidade de serviços.

“Estou em processo de construção de um projeto para submeter ao edital de organização de eventos. Com o financiamento, eu espero realizar VI Encontro Científico Cultural anual (Enccult), disponibilizando nos seminários: palestras, minicursos, oficinas, apresentação de trabalhos e apresentações artístico-culturais”, explica o professor. O encontro é promovido pela Uneal e parceiros, e ocorre em Santana do Ipanema, de forma a contemplar os diversos pesquisadores do estado e região.

Compreendendo a trajetória

Explorada esta roda viva empreendedora da ciência, passa a se entender mais sobre qual é a identidade da pesquisa alagoana. Ela possui desníveis, obstáculos, mas conquista espaços em saltos qualitativos e consecutivamente. Apesar do momento nacional, a Fapeal tem contribuído para possibilitar que a região viva um momento favorável, para quem deseja expandir a sua ala produtiva.

A estes relatos, somam-se opiniões de que ainda é preciso equiparar subsídios e infraestrutura de ensino, mas revela que, este campo já recebe bons retornos. Em poucos anos de mudanças estruturadas, é possível verificar conquistas a frente de outros estados.

Alagoas evoluiu no seu quadro de mestres e doutores, possui destaque quanto ao número de patentes realizadas na universidade pública, fornece bolsas para boa parte da graduação e todo o quadro da pós-graduação, além de ter editais voltados especificamente ao progresso interiorano, entre outras inúmeras ações. Portanto, investir em ciência nunca será como gastar outras áreas, pois todo subsídio colocado sempre agregará resultados.

  Por  Blog Adalberto Gomes Noticias com Agência Alagoas

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