Índios de Inhapi resgatam história e lançam grife no Sertão de Alagoas
Ideia de criar a grife surgiu recentemente pelos coordenadores dos Jogos Indígenas Koiupanká Damião Torres (Foto: Davi Salsa) |
Beleza indígena é história, naturalidade,
diversidade, simplicidade. Aspectos que têm sido deixados de lado no
mundo da moda e que o povo Koiupanká, no município sertanejo de Inhapi,
busca resgatar com o lançamento de uma grife com roupas estilizadas e
adornos utilizados na aldeia.
A ideia de criar a grife surgiu recentemente pelos coordenadores dos
Jogos Indígenas Koiupanká Damião Torres, coordenador-geral e articulador
político, Francisco João, coordenador-técnico de Assuntos Culturais e
Gildete Merênço, coordenadora de Arte e Comunicação, e que também é
graduada em História pela Universidade Estadual de Alagoas (Uneal) e
curso de Licenciatura Indígena (Prolind), além de ser coordenadora
pedagógica na Escola Estadual Indígena Ancelmo Bispo de Souza, na Aldeia
Roçado, no município de Inhapi.
Gildete Merenço relata que as vestimentas são produzidas em tecido
cru, na cor branca. “Nosso propósito da escolha do tecido traz um
sentido muito forte e simbólico para o povo Koiupanká, simbolizando a
simplicidade, a forma que as mulheres da nossa aldeia apresentam nos
rituais, deixando de lado as coisas o que o mundo induz”, explica.
Ela conta que, no passado, foi uma das primeiras vestimentas que
cobriu a nudez das indígenas nas aldeias. “Foi um tipo de tecido como
esse, simples, cobertura essa imposta pelo colonizador. As chamadas
toalhas, assim dizendo, que servia para envolver as cinturas deixando
expostos os seios. Com o passar do tempo, os tecidos ganharam novas
formas até que as roupas, efetivamente, começaram a fazer parte da
realidade de muitos povos indígenas”, lembra a professora e estilista
indígena.
Os desenhos das peças foram planejados e desenhados por Gildete
Merênço, tendo a contribuição do coordenador Francisco João, na pintura
das peças, e supervisão-geral do coordenador Damião Torres, e a
colaboração dos jovens artesãos, costureiras e bordadeiras da
comunidade.
“Beleza do olhar, da pele, do sorriso, dos diversos formatos de
rostos, do balançar ou não dos cabelos. Beleza é ter amor próprio, ser
humilde, respeitar o próprio corpo e aceitar as mudanças que ocorrem
naturalmente com o tempo”, complementa Gildete Merenço, que apresentou a
grife em desfile recente na Aldeia Mãe Serra do Capela, em Palmeira dos
Índios, onde estavam reunidos nove povos indígenas. O próximo passo agora é comercializar a grife e o preço médio de cada peça do vestuário custa R$ 100 reais.
Povo Koiupanká: uma história de luta
No Sertão de Alagoas, no município de Inhapi, está fincada a história
do povo Koiupanká. Descendentes do povo Pankararu, de Pernambuco, eles
vieram para as terras alagoanas em busca de melhores condições de vida,
por volta do ano de 1883.
Migraram do Brejo dos Padres, em Tacaratu, no interior de Pernambuco,
a fim de encontrar terras mais produtivas e um lugar livre das
perseguições naquela época.
A comunidade indígena Koiupanká divide-se em três aldeias: Aldeia
Baixa do Galo, Aldeia Roçado e Aldeia Baixa Fresca, onde vivem 174
famílias e aproximadamente 584 pessoas.
Por Tribuna Hoje
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