Em novo ciclo de fiscalização, instituições de defesa do meio ambiente iniciam 8ª etapa da FPI do São Francisco
Foto: Jonathan Lins |
Consolidada como uma das principais
operações de proteção aos patrimônios ambiental, histórico e cultural em
Alagoas, bem como uma grande ação em defesa da saúde e segurança do
trabalhador dos municípios ribeirinhos, a Fiscalização Preventiva
Integrada da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (FPI do São
Francisco) dá início, nesta segunda-feira (5), à sua oitava etapa no
estado. Pela primeira vez, a força-tarefa revisitará municípios já
fiscalizados para acompanhar a evolução das políticas públicas locais
desde o início da FPI, em 2014, a partir de um panorama comparativo.
O Ministério Público do Estado de
Alagoas (MPE/AL) coordena a FPI do São Francisco, com o apoio do Comitê
da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) e de mais 21 órgãos
estaduais e federais de defesa do meio ambiente e dos direitos
trabalhistas, além de instituições de classe e sem fins lucrativos, com
atribuição na esfera ambiental.
Juntos, eles atuarão no combate ao
lançamento de efluentes sólidos e líquidos nas águas, captação irregular
de recursos hídricos, supressão de vegetação, comércio de animais
silvestres, pesca predatória, gestão inadequada de lixo, má estrutura de
unidades de saúde, produção irregular de produtos para consumo humano,
ameaças a comunidades tradicionais, como indígenas, quilombolas e
ciganos e as precárias condições de trabalho as quais são submetidas os
profissionais que emprestam sua mão-de-obra para as mais diferentes
atividades produtivas da região do baixo São Francisco.
Os representantes dos órgãos e entidades
se dividirão em 12 equipes, que irão às ruas todos dias: resíduos
sólidos e extração mineral; produtos de origem animal e vegetal;
abastecimento de água e esgotamento sanitário; ocupação irregular às
margens do São Francisco e produtos perigosos; aquática; centros de
saúde; fauna; flora; educação ambiental; patrimônio cultural e
comunidades tradicionais; equipe base; e gestão ambiental. Esta última a
grande novidade da edição.
“Vamos trabalhar bastante junto às
Prefeituras para garantir a efetivação do Sistema Municipal de
Informações sobre o Meio Ambiente, que passa pela gestão ambiental
adequada, como prevê a Lei Complementar nº 140/2011. O Município deve
ser o principal agente de fiscalização em defesa do meio ambiente,
enquanto aos órgãos estaduais e federais compete a ação supletiva, ou
seja, de reforço ao agir municipal”, explica a promotora de justiça
Lavínia Fragoso, que, ao lado do promotor de justiça Alberto Fonseca,
coordena a FPI do São Francisco mais uma vez.
“As equipes de fauna e flora também
inovaram neste ano. A primeira, por exemplo, fará uso do Canal Verde do
Instituto do Meio Ambiente de Alagoas, contato do órgão para receber
denúncias de danos ambientais, entre eles, o de captura de animais
silvestres. Já a flora realizou um mapeamento das microbacias do Rio São
Francisco, que ajudará na identificação dos locais de supressão de
áreas de preservação permanente. Essa equipe promoverá ainda o cadastro
ambiental rural por onde passar, facilitando assim a vida do pequeno
proprietário”, disse Alberto Fonseca
O vice-presidente do CBHSF, Maciel
Oliveira, compartilha a expectativa sobre o novo ciclo da fiscalização:
"A FPI é extremamente importante para os objetivos do Comitê, pois
cumpre um papel previsto na Lei das Águas, a Lei no 9.433/97, que une as
políticas de meio ambiente com as de recursos hídricos, além de
fiscalizar a captação de água, lançamentos de efluentes, ocupação
irregular, desmatamentos, entre outros prejuízos ambientais. Com o
retorno aos municípios onde tudo começou, teremos um resultado do que
realmente mudou após a fiscalização preventiva e integrada".
Cinquenta municípios integram a Bacia
Hidrográfica do Rio São Francisco em Alagoas e, nesta etapa, sete serão
alvos da FPI no estado. Ao final da operação, haverá uma audiência
pública para apresentar os resultados da fiscalização preventiva
integrada aos gestores municipais, representantes da sociedade civil e
organizações sociais da região. O encontro ocorrerá no dia 16 de março,
às 9h, na sede do Sindicato dos Servidores Públicos de Penedo
(SINDSPEM), que fica na Praça dos Artistas, s/n, no Centro da cidade.
Convidados
A fim de conhecer melhor a experiência
da FPI do São Francisco em Alagoas, a promotora de justiça Wânia Marçal
de Medeiros, do Ministério Público do Estado de Goiás, participará da
força-tarefa na expectativa de levar a fiscalização preventiva e
integrada para a Bacia Hidrográfica da Bacia do Araguaia. Representantes
do Ministério Público do Estado de Pernambuco também participarão da
FPI com finalidade similar, no caso, de aperfeiçoar a defesa do Velho
Chico no estado vizinho.
Esta oitava edição contará ainda com
duas técnicas em gestão ambiental dos Estados de Minas Gerais e da
Bahia, que comandarão a equipe responsável por discutir administração
pública da área junto às Prefeituras dos municípios.
A FPI do São Francisco terá mais uma vez
a presença de três peritos em saúde e segurança do trabalho, que
atuarão em conjunto na elaboração dos relatórios técnicos de inspeção.
Cedidos pelo Ministério Público do Trabalho em Alagoas (MPT/AL), eles
também vão atuar na fiscalização do trabalho nos alvos da operação
integrada, no que se refere à verificação da existência de trabalho
infantil.
“A atuação do Ministério Público do
Trabalho na FPI será de fundamental importância no que se refere à saúde
e segurança do trabalhador. Ressalto que, a partir de relatórios
produzidos pela FPI, o MPT já instaurou dezenas de procedimentos
investigatórios e procedimentos promocionais, os quais resultaram na
assinatura de termos de ajustamento de conduta, no ajuizamento de ações
civis públicas e na regularização voluntária em outros procedimentos”,
disse o procurador-chefe do MPT/AL, Rafael Gazzaneo.
As etapas
Toda nova etapa da FPI começa a ser
planejada com pelo menos quatro meses de antecedência. Inicialmente, os
coordenadores da Fiscalização e de cada uma das equipes discutem quais
cidades deverão ser visitadas e como as ações in locu serão postas em
práticas. Na sequência, é feito o levantamento dos alvos, na busca pelo
endereço correto de todos eles.
Por meio dos órgãos e entidades de
defesa do meio ambiente, a FPI do São Francisco adotará medidas
preventivas e de responsabilização dos agentes causadores dos danos
ambientais, como forma de combater os problemas que afetam o “Velho
Chico” e a população residente nos municípios ribeirinhos ou nas
proximidades do manancial.
Ao Ministério Público Estadual, por
exemplo, fica a atribuição de formalizar termos de ajustamento de
conduta (TAC) e fazer a propositura de ações civis públicas e penais
contra pessoas físicas e jurídicas de direito público e privado que
forem flagradas no cometimento de crimes ambientais.
O São Francisco
A Bacia Hidrográfica do Rio São
Francisco é formada pelo “Velho Chico”, principal curso d'água, e por um
conjunto de afluentes permanentes e temporários que deságuam nele. É
considerada a terceira maior bacia e a única que ocupa totalmente o
território nacional. Abrange 504 municípios (cerca de 9% do total de
cidades do Brasil) e percorre seis estados da Federação: Alagoas, Bahia,
Goiás, Minas Gerais, Pernambuco, Sergipe, além do Distrito Federal.
O Rio São Francisco tem sua nascente
histórica na serra da Canastra, no município de São Roque de Minas,
situada em Minas Gerais, estado que realizará no segundo semestre sua
primeira etapa da FPI. Seu percurso atravessa a Bahia, passa por
Pernambuco, segue por Alagoas e termina na divisa ao norte de Sergipe,
onde acaba por desaguar no Oceano Atlântico. O Velho Chico possui área
de 638.576km², com 2.700km de extensão. Atualmente suas águas servem
para abastecimento, irrigação, geração de energia elétrica, turismo,
pesca e navegação.
Ao longo dos anos, vítima da degradação
ambiental do homem e da exploração das usinas hidrelétricas, o Rio São
Francisco tem pedido socorro. Desmatamento praticado para dar lugar às
monoculturas e carvoarias que comprometem o próprio São Francisco e seus
afluentes, provocando o fenômeno do assoreamento; poluição urbana,
industrial, minerária e agrícola; irrigação, que além dos agrotóxicos,
consome grandes volumes de água, muitas vezes furtada, haja vista que é
captada sem a devida outorga por parte da Agência Nacional de Águas e
órgãos dos estados; barragens e hidrelétricas que expulsam comunidades
inteiras e que impedem os ciclos naturais do rio; e o aumento da pobreza
e o abandono da população ribeirinha, que mais sofre com as
consequências de todos esses abusos são os principais problemas
diagnosticados no Velho Chico.
Por Ascom MPE/AL
Nenhum comentário