Apesar da crise econômica, Fábrica da Pedra continua operando e descarta demissões
Depois de mais de 100 anos de muitos altos e baixos, a Fábrica da
Pedra, localizada no centro da cidade de Delmiro Gouveia, pode não
resistir à crise econômica que assola ao país. Talvez o pré-anúncio
disso tenha ocorrido na manhã desta segunda-feira (1), quando a
indústria têxtil teve a energia cortada pela Eletrobras em todo o parque
industrial, por falta de pagamento.
O débito de um mês, no valor de R$ 1,1 milhão, foi o motivo da
concessionária de serviço cortar o fornecimento elétrico da indústria,
que por conta disso parou, mantendo apenas parte do funcionando, com a
ajuda de geradores. O Museu da Pedra, pertencente à fábrica, também
ficou sem energia.
Antes mesmo de ter a energia interrompida, a indústria vinha parando o
setor de tecelagem, três ou quatro dias por semana, por falta de
demanda no estoque. Quando isso ocorria, os trabalhadores do setor
ficavam parados, cumprindo o horário de trabalho sem fazer nada.
Os cerca de 600 operários estão assustados com a possibilidade de
perderem o emprego. “Fico imaginando o que será de mim e dos outros
trabalhadores, caso a fábrica não consiga sobreviver a esse momento de
crise que vive nosso país. Não estou nem conseguindo mais dormir
direito, pensando nisso”, disse um funcionário, que preferiu não ter o
nome divulgado.
Os comerciantes da região também estão preocupados com a situação,
que pode agravar ainda mais a crise econômica, principalmente em Delmiro
Gouveia. “Há anos a fábrica movimenta a economia do município e até da
região. Se parar, será lastimável para todo o comércio”, disse o gerente
de uma loja de calçados e confecções da cidade.
O ex-funcionário Zeca Queiroz, que trabalhou durante 36 anos na
fábrica, disse que a indústria já conseguiu superar outras crises
graves, como a que culminou no suicídio do diretor Antônio Carlos
Menezes e no assassinato do fundador Delmiro Augusto da Cruz Gouveia.
“Durante o tempo em que trabalhei na fábrica, nunca vi uma crise tão
devastadora como esta. Antes o principal problema era somente o mercado,
agora também é de gestão de governo”, disse.
O presidente da Câmara de Vereadores do município, Valdo Sandes, que
também trabalhou na fábrica durante dois anos, disse que a situação é
lamentável e que a classe política precisa se unir para ajudar à
indústria. “Lamento muito a situação em que se encontra a fábrica, onde
tive a honra de trabalhar. É preciso unir forças para salvá-la e
garantir o emprego de centenas de pessoas”, disse.
Para explicar a situação, o diretor da fábrica, Luiz Anhanguera
Lessa, relatou a trajetória financeira da indústria durante os últimos
cinco anos. “Quando assumi a direção, em 2010, a fábrica faturava R$ 65
milhões por ano. A partir de 2012 até 2014 o faturamento foi elevado
para R$ 85 milhões, fazendo com que a indústria voltasse a crescer”,
disse.
Ainda de acordo com o diretor, com o lucro assegurado, foi possível
realizar vários investimentos na fábrica, entre eles a aquisição de
novas máquinas, com tecnologia avançada. “Com todo o capital de giro
aplicado, esperávamos um retorno, mas os efeitos da crise econômica no
país atrapalharam nossos planos”, disse.
Conforme Anhanguera, por causa da recessão econômica, o custo
doméstico aumentou e a renda das pessoas passou a ser suficiente apenas
para pagar contas. “Sem poder de compra, as pessoas deixaram de consumir
e com isso as produções industriais foram afetadas, com a falta de
demanda” disse.
No mês de dezembro de 2015, a crise financeira nacional começou a
provocar inviabilidades na administração. “A folha de pagamento de R$
1,5 milhão e o décimo terceiro salário fizeram com que atrasássemos a
conta de luz. Tentamos negociar com a Eletrobras, mas a empresa não
aceitou esperar um dia a mais do prazo dado por ela e determinou o
corte, sem sequer levar em consideração que somos o maior consumidor do
estado”, disse.
Depois de mobilizações da diretoria, durante toda a manhã desta
terça-feira (2), o pagamento do débito com a Eletrobras foi realizado.
Por volta das 14h, a empresa de distribuição de energia restabeleceu o
fornecimento elétrico e a fábrica voltou a funcionar normalmente.
O diretor da fábrica adiantou que uma das medias que vai tomar para a
evitar a situação é investir na captação de energia solar para reduzir
os custos de consumo com a Eletrobras. Anhanguera reforçou que o momento
financeiro da fábrica não é animador, mas assegurou que ela não vai
fechar.
Quanto a demissão de operários, Luiz Anhanguera disse que se a
situação econômica do país continuar da mesma forma, será praticamente
impossível não realizar. “Vamos segurar até onde for possível para não
demitir ninguém, mas dependemos do rumo da economia nacional”, disse.
A fábrica
Fundada no dia 5 de junho de 1914, pelo industrial Delmiro Augusto da
Cruz Gouveia, a Fábrica da Pedra S/A Fiação e Tecelagem foi adquirida
pelo Grupo Carlos Lyra, em 1992. É uma indústria prestes a completar 102
anos, que tem contribuído para o desenvolvimento econômico e social do
sertão de Alagoas, e o restante do país.
Mais imagens.
Por Minuto Sertão
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