Apesar da crise econômica, Fábrica da Pedra continua operando e descarta demissões

Fábrica da Pedra em Delmiro Gouveia
Fábrica da Pedra em Delmiro Gouveia (Foto: Grupo Carlos Lyra)

Depois de mais de 100 anos de muitos altos e baixos, a Fábrica da Pedra, localizada no centro da cidade de Delmiro Gouveia, pode não resistir à crise econômica que assola ao país. Talvez o pré-anúncio disso tenha ocorrido na manhã desta segunda-feira (1), quando a indústria têxtil teve a energia cortada pela Eletrobras em todo o parque industrial, por falta de pagamento.

O débito de um mês, no valor de R$ 1,1 milhão, foi o motivo da concessionária de serviço cortar o fornecimento elétrico da indústria, que por conta disso parou, mantendo apenas parte do funcionando, com a ajuda de geradores. O Museu da Pedra, pertencente à fábrica, também ficou sem energia.
Antes mesmo de ter a energia interrompida, a indústria vinha parando o setor de tecelagem, três ou quatro dias por semana, por falta de demanda no estoque. Quando isso ocorria, os trabalhadores do setor ficavam parados, cumprindo o horário de trabalho sem fazer nada.

Os cerca de 600 operários estão assustados com a possibilidade de perderem o emprego. “Fico imaginando o que será de mim e dos outros trabalhadores, caso a fábrica não consiga sobreviver a esse momento de crise que vive nosso país. Não estou nem conseguindo mais dormir direito, pensando nisso”, disse um funcionário, que preferiu não ter o nome divulgado.

Os comerciantes da região também estão preocupados com a situação, que pode agravar ainda mais a crise econômica, principalmente em Delmiro Gouveia. “Há anos a fábrica movimenta a economia do município e até da região. Se parar, será lastimável para todo o comércio”, disse o gerente de uma loja de calçados e confecções da cidade.

O ex-funcionário Zeca Queiroz, que trabalhou durante 36 anos na fábrica, disse que a indústria já conseguiu superar outras crises graves, como a que culminou no suicídio do diretor Antônio Carlos Menezes e no assassinato do fundador Delmiro Augusto da Cruz Gouveia. “Durante o tempo em que trabalhei na fábrica, nunca vi uma crise tão devastadora como esta. Antes o principal problema era somente o mercado, agora também é de gestão de governo”, disse.

O presidente da Câmara de Vereadores do município, Valdo Sandes, que também trabalhou na fábrica durante dois anos, disse que a situação é lamentável e que a classe política precisa se unir para ajudar à indústria. “Lamento muito a situação em que se encontra a fábrica, onde tive a honra de trabalhar. É preciso unir forças para salvá-la e garantir o emprego de centenas de pessoas”, disse.

Para explicar a situação, o diretor da fábrica, Luiz Anhanguera Lessa, relatou a trajetória financeira da indústria durante os últimos cinco anos. “Quando assumi a direção, em 2010, a fábrica faturava R$ 65 milhões por ano. A partir de 2012 até 2014 o faturamento foi elevado para R$ 85 milhões, fazendo com que a indústria voltasse a crescer”, disse.

Ainda de acordo com o diretor, com o lucro assegurado, foi possível realizar vários investimentos na fábrica, entre eles a aquisição de novas máquinas, com tecnologia avançada. “Com todo o capital de giro aplicado, esperávamos um retorno, mas os efeitos da crise econômica no país atrapalharam nossos planos”, disse.
Conforme Anhanguera, por causa da recessão econômica, o custo doméstico aumentou e a renda das pessoas passou a ser suficiente apenas para pagar contas. “Sem poder de compra, as pessoas deixaram de consumir e com isso as produções industriais foram afetadas, com a falta de demanda” disse.
No mês de dezembro de 2015, a crise financeira nacional começou a provocar inviabilidades na administração. “A folha de pagamento de R$ 1,5 milhão e o décimo terceiro salário fizeram com que atrasássemos a conta de luz. Tentamos negociar com a Eletrobras, mas a empresa não aceitou esperar um dia a mais do prazo dado por ela e determinou o corte, sem sequer levar em consideração que somos o maior consumidor do estado”, disse.

Depois de mobilizações da diretoria, durante toda a manhã desta terça-feira (2), o pagamento do débito com a Eletrobras foi realizado. Por volta das 14h, a empresa de distribuição de energia restabeleceu o fornecimento elétrico e a fábrica voltou a funcionar normalmente.

O diretor da fábrica adiantou que uma das medias que vai tomar para a evitar a situação é investir na captação de energia solar para reduzir os custos de consumo com a Eletrobras. Anhanguera reforçou que o momento financeiro da fábrica não é animador, mas assegurou que ela não vai fechar.
Quanto a demissão de operários, Luiz Anhanguera disse que se a situação econômica do país continuar da mesma forma, será praticamente impossível não realizar. “Vamos segurar até onde for possível para não demitir ninguém, mas dependemos do rumo da economia nacional”, disse.

A fábrica

Fundada no dia 5 de junho de 1914, pelo industrial Delmiro Augusto da Cruz Gouveia, a Fábrica da Pedra S/A Fiação e Tecelagem foi adquirida pelo Grupo Carlos Lyra, em 1992. É uma indústria prestes a completar 102 anos, que tem contribuído para o desenvolvimento econômico e social do sertão de Alagoas, e o restante do país.

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Por Minuto Sertão
 

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