Surdos realizam sonho e casam em cerimônia promovida pela Central de Interpretação de Libras
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Com apoio do Estado, casal Mary Moreira e Marcos Sérgio Bandeira, ambos surdos, realizou o sonho de se casar numa cerimônia religiosa Cláudia Nascimento |
Gipsolias decorando o salão, tons de azul e amarelo enfeitando o
ambiente, tapete vermelho e um buquê de rosas brancas que exalavam
romantismo, harmonia e charme. Tudo lindo, puro e singelo. Tudo
ornamentado com simplicidade, mas com o amor de um trabalho em equipe.
Ela, 47 anos, natural de Pilar, e ele, 46 anos, natural de Passo de Camaragibe. Conheceram-se numa igreja evangélica, se apaixonaram, encontraram inúmeras restrições em consequência da barreira linguística, enfrentaram a falta de apoio de alguns familiares e, após sete anos de namoro, entrelaçaram suas vidas em uma solenidade matrimonial.
Foi superando os desafios da comunicação e vencendo as barreiras do
silêncio, que o casal Mary Moreira e Marcos Sérgio Bandeira, ambos
surdos, realizou o sonho de se casar numa cerimônia religiosa. O
matrimônio aconteceu no último dia 1º de abril, na Central da Mulher e
dos Direitos Humanos, no bairro da Jatiúca.
“As famílias criaram um dialeto para se comunicar com eles, o que não
permitia um entendimento claro. Todos sabiam da vontade que eles tinham
em se casar, mas não da intensidade desse desejo, que ficou evidente a
partir da intervenção dos profissionais da Central de Interpretação de
Libras (CIL). Os intérpretes mediaram a comunicação com os parentes e
auxiliaram os noivos na realização dos procedimentos para o casamento
acontecer. O apoio da Secretaria, por meio da Superintendência da Pessoa
com Deficiência, foi imprescindível na efetivação do sonho”, relatou a
coordenadora da CIL, Gilmara Farias.
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A secretária da Mulher e dos Direitos Humanos, Claudia Simões, reafirmou o papel da pasta em promover os direitos humanos e a inclusão. “É muito satisfatório participarmos de uma forma tão efetiva de momentos como estes, realizando um sonho por meio do nosso compromisso em garantir os direitos à diversidade”.
“A felicidade da minha irmã também é a minha. Se este é um sonho
dela, eu estou ao seu lado. Estou aqui para tornar este dia ainda mais
especial para ela. A Central foi essencial na mediação entre nós e na
concretização do desejo da Mary”, explicou a irmã da noiva, Adriana
Moreira.
Para a tia do noivo, Antônia Bandeira, que ele considera como mãe,
pois o educou desde pequeno, a satisfação em vê-lo feliz não tem preço.
“O apoio do pessoal da CIL foi fundamental para que o casamento
acontecesse, para que esta festa linda fosse realizada. Eu não teria
condições de preparar algo assim. Estou feliz com este momento, e vejo
que meu filho também está”, declarou Antônia.
Segundo Marcos Sérgio, foi através de uma colega da igreja que eles
conheceram a CIL, primordial na comunicação entre eles e os parentes e
na viabilização de alguns serviços. “Através da CIL eu tive mais
liberdade em expor minhas opiniões, mais independência e autonomia, e
hoje estou realizando este sonho”, relata Marcos.
A noiva ressaltou a emoção em estar se casando e da importância da
Central na realização do enlace. “Este é um grande dia para nós. Somos
muito gratos à CIL e ao trabalho que eles desenvolveram conosco. O
processo para que esta data se realizasse só começou a fluir porque nós
encontramos apoio nesse equipamento do Estado. Eu estou muito feliz”,
ressaltou Mary.
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A celebração religiosa foi realizada pelo pastor Geraldo Tenório. “Já
fiz muitos casamentos ao longo do meu ministério, mas esse é especial, é
a primeira vez que uno em matrimônio duas pessoas surdas. Sinto-me
honrado, pois a minha incumbência como sacerdote é promover a união
entre pessoas que se amam. Fico contente em ver a garantia dos direitos
deles sendo assegurada”, disse o pastor.
Estatística
De acordo com dados do último censo demográfico do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 27,5% da população
alagoana possui algum tipo de deficiência, sendo que aproximadamente 6%
tem algum tipo de deficiência auditiva. A primeira Central de
Interpretação de Libras do estado foi implantada em agosto de 2015. Em
breve, uma nova Central será instalada no sertão de Alagoas.
“As barreiras da comunicação começaram a ser quebradas com o
surgimento da Central. Com a Instalação da CIL em Alagoas, as pessoas
surdas, pela primeira vez tiveram condição de exercer sua cidadania, de
viver com mais independência e de ter uma vida mais digna”, afirmou
Gilmara.
A Central de Interpretação de Libras (CIL) faz parte da estrutura da
Secretaria da Mulher e dos Direitos Humanos e tem como propósito
promover a acessibilidade, garantir o atendimento especializado e de
qualidade às pessoas com deficiência auditiva e surdas por meio da
tradução e interpretação da Língua Brasileira de Sinais.
Promover a comunicação entre surdos e ouvintes, facilitando o acesso
dessas pessoas a órgãos públicos e serviços, tais como: saúde, educação e
segurança, além da interpretação de documentos e textos jurídicos
também fazem parte do papel da CIL.
Entre as prestações de serviços na unidade da Central também estão a
solicitação de emissão de documentos pessoais (CPF, RG, CTPS,
Passaporte, etc.), cadastramento nos programas sociais, consultas sobre a
situação de benefícios, auxílio na consulta de benefícios ao
trabalhador (FGTS, seguro-desemprego, vagas no Sine, etc) e o apoio à
realização de denúncias no Disque 100 e demais canais.
A equipe da CIL é composta, atualmente, por seis intérpretes e um
tradutor e para ter acesso aos serviços, o usuário deve fazer um
agendamento pelo número 3315-2132 ou de forma presencial. A CIL está
instalada na Central da Mulher e dos Direitos Humanos, na rua Augusto
Cardoso, S/N, na Jatiúca.
Por Blog Adalberto Gomes Noticias com Agência Alagoas
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