Arte de Dona Irinéia assina Prêmio Tia Marcelina 2021 entregue pelo Governo de Alagoas nesta terça (23)

Dona Irinéia com uma das peças que serão entregues aos homenageados na solenidade da quinta edição do Prêmio Tia Marcelina

Ascom Semudh Daniel de Oliveira

O barro avermelhado retirado do Rio Mundaú transforma-se em retratos da história do povo quilombola através da arte carregada de ancestralidade moldada pelas mãos de Irinéia Rosa Nunes da Silva, a Dona Irinéia. Neste ano, as esculturas cerâmicas da Mestra também terão mais outra nobre atribuição: homenagear pessoas e instituições que ganharam destaque na defesa da igualdade racial e na luta contra o preconceito e a discriminação.

Reconhecida como Patrimônio Vivo de Alagoas desde 2005 e uma das artesãs mais conhecidas de todo o país, Dona Irinéia assinará o troféu da quinta edição do Prêmio Tia Marcelina, realizado pelo Governo de Alagoas, por meio pela Secretaria de Estado da Mulher e dos Direitos Humanos (Semudh), em parceria com o Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial (Conepir) e que acontecerá nesta terça-feira (23), às 18h, no Hotel e Resort Jatiúca.

Apesar de toda a representatividade e importância que seu nome carrega, Dona Irinéia fez questão de expor a sua gratidão ao ver seu talento ser lembrado para ilustrar o aspecto mais importante da solenidade. "Eu me sinto muito agradecida e orgulhosa de participar desse prêmio. Quando alguém me convida para qualquer lição dentro do meu serviço, eu faço de tudo para participar", disse a mestre esbanjando simplicidade.

A secretária de Estado da Mulher e dos Direitos Humanos, Maria Silva, explica que a escolha da Mestre reflete tudo o que o Prêmio representa. “É uma cerimônia de reconhecimento daqueles que enriquecem a nossa história e a história do Estado de Alagoas através de ações diversas, sejam no campo acadêmico, na cultura, nas políticas públicas, entre outras. É hora de agradecer e retribuir o talento compartilhado e, no mesmo passo, valorizar as nossas raízes”, afirmou.

Uma vida pela arte

Dos seus 74 anos vividos, 42 são dedicados à arte da cerâmica. Foi moldando figuras humanas, cabeças, pés, vasos, panelas e outras formas através do barro pisoteado, amassado, moldado e queimado que Dona Irinéia encontrou sua maneira de contar histórias de lutas, conquistas e dificuldades vivenciadas pelo seu povo e por ela mesma.

Nascida no povoado de Muquém - uma comunidade quilombola próxima à Serra da Barriga, símbolo máximo do Quilombo dos Palmares -, a Mestre teve seu primeiro contato direto com o artesanato por volta de seus vinte anos, quando começou a ajudar sua mãe na confecção de panelas de barro. Posteriormente, foi recebendo encomendas de fiéis que encontravam em suas peças formas para pagarem promessas. E foi assim que Dona Irinéia descobriu a sua arte.

Explorando o barro de formas diferentes ao lado de seu marido, Antonio Nunes, o Toinho, a Mestre chegou a levar a sua arte para o resto do país em exposições em metrópoles como Recife, São Paulo e Rio de Janeiro, e, também, para fora do Brasil. Em 2015, esculturas da artesã foram levadas para a Expo Milão, na Itália, onde se juntaram com obras vindas de 140 países.

Do mesmo jeito que aprendeu com sua mãe, Dona Irinéia repassou a tradição e as técnicas da arte com cerâmica para seus 11 filhos. Atualmente, por conta da idade avançada, eles ajudam a Mestre na produção das peças. Porém, apesar das dificuldades impostas pela alta vivência, a ceramista diz que não pretende parar em breve.

"Não venho bem de saúde, mas venho trabalhando devagarzinho, no empurrão. Eu não tenho vontade de parar agora não", diz a artesã com determinação.

O Prêmio

A premiação, que terá o contorno artístico marcado pela obra de Dona Irinéia, foi criada em homenagem à Tia Marcelina, uma ex-escrava africana de Janga, Angola, e descendente do Quilombo dos Palmares e de família real africana. Junto a Manoel Gelejú, Mestre Roque, Mestre Aurélio e outros, fundaram os primeiros Xangôs do Brasil, no bairro de Bebedouro, em Maceió. Ela morreu durante o “Quebra de Xangô”, movimento que perseguiu e torturou em 1912 representantes das religiões de matrizes africanas.

Professores, pesquisadores, jornalistas, ativistas, líderes quilombolas, líderes de religiões de matriz africana e instituições são alguns dos que compõem o seleto grupo de premiados nas edições anteriores. A solenidade acontece em alusão ao mês da Consciência Negra.

Por Secom Alagoas

 

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